A Telemedicina é uma realidade para saúde, com possibilidade de melhorar o atendimento médico e o cuidado com o paciente. Em diversas especialidades o atendimento remoto é uma realidade e na Neurologia não é diferente.
O método já é utilizado há anos na Neurologia, para o tratamento agudo do Acidente Vascular Encefálico. Diversos estudos e trabalhos comprovam sua eficácia e impacto para melhora clínica dos déficits neurológicos.
Entrando nesse assunto, o tópico de hoje será sobre o uso da Telemedicina para tratamento de Cefaleias. Estima-se que a cefaleia tensional e a enxaqueca encontram-se, respectivamente, na segunda e quarta posições entre os problemas de saúde mais prevalentes no mundo.
Associado à cefaleia induzida por abuso de analgésicos, essas 3 condições são as mais prevalentes no consultório de um neurologista. Também é uma das causas frequentes de idas ao Setor de Emergência.
Eficácia e segurança
Foi publicado um estudo recente na Revista Neurology, sobre o uso de Telemedicina para acompanhamento de pacientes com Cefaleia. Mostrou que esta é eficaz e segura para o tratamento de cefaleias primárias crônicas.
Em tempos de discussão de medicina baseada em valor e formas de elevar a eficiência na saúde (tanto pública quanto privada), essa estratégia apresenta um enorme potencial. O estudo evidenciou menos visitas à Emergência e gastos com exames complementares desnecessários.
Não só o atendimento virtual foi capaz de identificar causas primárias de cefaleia, com início de tratamento profilático de forma mais ágil, mas também permitiu a identificação de casos de cefaleias secundárias. Com isso, é feito um direcionamento mais eficaz para o hospital.
Dentre as causas de hospitalização apresentadas nesse estudo, identificadas através do atendimento virtual, encontram-se: cefaleia pós punção lombar; uma cefaleia em salvas em um paciente com histórico de aneurisma tratado neurocirurgicamente; cefaleia pós relação sexual, com o diagnóstico de vasoespasmo cerebral; status migranoso; entre outros.
Sobre o estudo
O estudo fez acompanhamento desses pacientes durante o período de um ano, utilizando duas escalas para mensurar a eficácia desta intervenção: o HIT-6 (Headache Impact Test 6 – um questionário composto de 6 perguntas que avaliam o impacto da cefaleia no cotidiano do paciente, intensidade da dor, presença de fadiga e irritabilidade) e o VAS (Visual Analogue Scale – que avalia a intensidade da dor numa escala de 0 a 10).
Um grupo foi acompanhado por via de Telemedicina e outro, presencialmente, realizando uma consulta no momento inicial, seis meses e doze meses após.
O estudo mostrou não haver diferença significativa no desfecho clínico (controle da dor e necessidade de analgésicos, e taxa de erro diagnóstico) entre o atendimento presencial e por Telemedicina nesses casos, com uma estimativa de erro (falha em identificar uma causa secundária) de 1 em cada 20.200 atendimentos.
Tal estudo traz luz aos benefícios do uso da tecnologia na saúde, com capacidade para promover maior acesso ao sistema de saúde. Além de melhorar a qualidade de vida e indicadores gerais da população.
Rafael Monteiro – Neurologista
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