O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental que afeta a forma como uma pessoa se comunica, interage socialmente e interpreta o mundo ao seu redor.
"Espectro" significa que o autismo se manifesta de formas muito diferentes em cada indivíduo, apresentando desde casos mais leves até aqueles que exigem cuidados mais intensivos.
Aqui, é importante dizer que o autismo não é uma doença que se "agrava" ou "melhora" com o tempo. A intensidade dos sintomas, no entanto, pode variar ao longo da vida.
As pessoas com TEA podem ter dificuldades em compreender as normas sociais, interpretar a linguagem não-verbal e estabelecer relações interpessoais.
Para auxiliar no diagnóstico e no planejamento do tratamento, os profissionais de saúde utilizam critérios que classificam o TEA em diferentes níveis de gravidade, baseados nas necessidades de apoio em cada área.
Os dados sobre pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ainda são limitados. Em 2022, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a principal fonte de informações estatísticas e geográficas do Brasil, incluiu pela primeira vez perguntas sobre pessoas autistas em seu questionário.
Antes disso, a última informação disponível era de um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2010, que estimava que o Brasil tinha cerca de 2 milhões de pessoas com autismo naquela época.
Graus de autismo
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é classificado em três níveis de suporte conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), indicando a quantidade de assistência que a pessoa necessita para funcionar no dia a dia.
Esses níveis ajudam a personalizar o atendimento e a intervenção para cada indivíduo. Vamos entender mais a fundo essas classificações:
Nível 1 - suporte necessário
Pessoas com nível 1 geralmente têm habilidades funcionais e de comunicação bem desenvolvidas, mas podem precisar de suporte em determinadas situações. Elas podem ter dificuldades com interações sociais, como iniciar e manter conversas, e podem apresentar comportamentos repetitivos que interferem em algumas atividades diárias.
Nível 2 - suporte substancial necessário
No nível 2, as pessoas necessitam de um suporte mais substancial. Elas têm dificuldades mais significativas com a comunicação verbal e não-verbal, e os comportamentos repetitivos são mais evidentes. A necessidade de ajuda é maior, especialmente em ambientes sociais e em situações que requerem mudanças de rotina.
Nível 3 - suporte muito substancial necessário
O nível 3 é o mais severo, onde a pessoa necessita de suporte muito substancial para a maioria das atividades diárias. A comunicação pode ser extremamente limitada e os comportamentos repetitivos são intensos. A independência é bastante restrita, e é necessário um apoio constante para lidar com as tarefas do cotidiano.
Síndrome de Asperger
Anteriormente, a Síndrome de Asperger era considerada um transtorno distinto do autismo. No entanto, com a publicação do DSM-5, ela foi incluída no espectro autista, geralmente correspondendo ao nível 1.
Pessoas com Síndrome de Asperger costumam ter habilidades linguísticas e cognitivas preservadas, mas enfrentam dificuldades significativas nas interações sociais e apresentam interesses restritos e repetitivos.
DGD-SOE (Distúrbio Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação)
Essa categoria diagnóstica era utilizada para descrever indivíduos que apresentavam características do autismo, mas não preenchiam todos os critérios para um diagnóstico formal de TEA. Com o DSM-5, essa categoria foi substituída pelo diagnóstico de TEA, reconhecendo a variabilidade das manifestações do transtorno.
Quais são as causas de autismo?
O autismo (TEA) é uma condição complexa e suas causas ainda são objeto de intensas pesquisas. Embora não haja uma resposta definitiva, a comunidade científica converge para a ideia de que o TEA é resultado da interação de diversos fatores, principalmente genéticos e ambientais.
Pesquisas indicam que o autismo tem uma forte base genética, sendo um transtorno com uma herdabilidade estimada de mais de 90%. Estudos com gêmeos e famílias mostram que há uma alta heritabilidade associada ao TEA.
Algumas mutações genéticas específicas e variações no número de cópias de certos genes têm sido associadas ao autismo. No entanto, não há um único gene responsável pelo transtorno; em vez disso, múltiplos genes interagem para aumentar o risco de desenvolvimento do autismo.
Embora a genética desempenhe um papel significativo, fatores ambientais também podem contribuir para o desenvolvimento do TEA.
Informações descritas em na seção de fatores de risco e prognóstico do DSM-5 explicam que uma gama de fatores de risco inespecíficos, como idade parental avançada, baixo peso ao nascer ou exposição fetal a ácido valproico, pode contribuir para o risco de transtorno do espectro autista.
No entanto, é importante notar que esses fatores ambientais não causam autismo por si só, mas podem interagir com predisposições genéticas para influenciar o desenvolvimento do transtorno.
Apesar dos avanços na compreensão do TEA, ainda há muita incerteza sobre suas causas exatas. As pesquisas continuam a explorar como esses fatores genéticos e ambientais interagem. A identificação de biomarcadores e o estudo de populações diversas são áreas de foco que podem oferecer novas percepções no futuro.
Quais são os principais sinais de autismo?
Os sinais de Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem variar amplamente, mas há algumas características comuns que ajudam no diagnóstico em diferentes idades. Identificar esses sinais precocemente é importante para iniciar intervenções que podem melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas com autismo.
É importante ressaltar que este é apenas um guia geral, e o diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde.
Alguns sinais comuns do autismo são:
- Atraso na fala: muitas crianças com autismo começam a falar mais tarde do que o esperado ou não desenvolvem a fala de forma fluente;
- Dificuldade em iniciar e manter conversas: podem ter dificuldade em iniciar conversas, manter um diálogo e entender as nuances da linguagem;
- Linguagem repetitiva: podem repetir palavras ou frases de forma constante (ecolalia);
- Dificuldade em entender e usar a linguagem não verbal: podem ter dificuldade em entender gestos, expressões faciais e o tom de voz;
- Pouco contato visual: evitar o contato visual ou ter dificuldade em manter o olhar;
- Dificuldade em fazer amigos: dificuldade em entender as regras sociais e fazer amigos;
- Desinteresse em brincadeiras sociais: preferir brincar sozinhos ou com objetos, em vez de interagir com outras crianças;
- Dificuldade em entender as emoções dos outros: dificuldade em reconhecer e responder às emoções dos outros;
- Movimentos repetitivos: balançar o corpo, girar objetos ou realizar outros movimentos repetitivos;
- Interesses restritos e intensos: ter um interesse obsessivo por determinados temas ou objetos;
- Rigidez na rotina: ficar ansiosos com mudanças na rotina e ter dificuldade em se adaptar a novas situações;
- Sensibilidade sensorial: ser mais sensíveis a sons, luzes, texturas ou cheiros;
- Dificuldades motoras: algumas crianças com autismo podem ter dificuldades motoras, como problemas de coordenação ou equilíbrio.
Procurar ajuda de profissionais especializados, como pediatras, psicólogos e psiquiatras, é fundamental para um diagnóstico correto e um plano de tratamento eficaz.
Como é feito o diagnóstico de autismo?
O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um processo multifacetado que envolve a observação do comportamento, entrevistas detalhadas e a aplicação de critérios específicos definidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição (DSM-5).
É geralmente feito por uma equipe de profissionais de saúde, incluindo pediatras, psicólogos, psiquiatras e terapeutas ocupacionais.
O DSM-5, publicado pela American Psychiatric Association, é a principal referência para o diagnóstico de TEA. Os critérios são divididos em duas categorias principais:
- Déficits persistentes na comunicação social e interação social em múltiplos contextos: dificuldade em iniciar e manter conversas, usar a linguagem de forma adequada, entender as nuances da comunicação não verbal, ter dificuldade em fazer amigos, entre outros;
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades: movimentos repetitivos, apego a rotinas, interesses intensos e restritos em temas específicos.
O diagnóstico do autismo envolve vários métodos integrados. Primeiramente, o profissional observa a criança ou adulto em diferentes situações para avaliar seus comportamentos, interações sociais e habilidades de comunicação.
Em seguida, entrevistas são conduzidas com os pais e cuidadores para obter informações sobre o desenvolvimento da criança desde o nascimento, incluindo marcos do desenvolvimento, dificuldades e preocupações.
Além disso, diversos instrumentos de avaliação, como questionários, testes e escalas, são utilizados para avaliar diferentes aspectos do desenvolvimento, como habilidades sociais, linguagem, comportamento e cognição.
Alguns outros critérios para o diagnóstico envolvem:
- Idade de início: os sintomas devem estar presentes na primeira infância, embora possam não ser totalmente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades da criança;
- Gravidade: a gravidade dos sintomas varia de pessoa para pessoa e pode afetar significativamente a capacidade da pessoa de se comunicar e interagir socialmente, já que o isolamento social e autismo podem estar relacionados;
- Exclusão de outras condições: é importante excluir outras condições que possam causar sintomas semelhantes, como a deficiência intelectual ou a perda auditiva.
O diagnóstico precoce e preciso é fundamental para iniciar intervenções apropriadas que podem melhorar significativamente a qualidade de vida de uma pessoa com TEA.
Por que ser diagnosticado por um profissional?
É essencial buscar um diagnóstico formal por um profissional, mesmo que você se identifique com os sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Além de confirmar o diagnóstico, um laudo médico pode te dar acesso a uma variedade de suportes disponíveis para pessoas autistas.
Entre as possibilidades estão o acesso a programas educacionais adaptados, terapias especializadas como fonoaudiologia e terapia ocupacional, e suportes de saúde mental. Pessoas autistas também têm direito a benefícios sociais, como isenções fiscais e assistência financeira, além de apoio no ambiente de trabalho, incluindo programas de inclusão e adaptações no ambiente profissional.
O diagnóstico feito por profissionais qualificados, como pediatras, neurologistas, psicólogos ou psiquiatras, proporciona uma compreensão clara das necessidades individuais. Isso possibilita a criação de um plano de tratamento personalizado, que pode incluir terapias, suporte educacional e intervenções específicas.
Existem tratamentos para pessoas autistas?
Sim, existem várias opções de tratamento e intervenções disponíveis para ajudar pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) a melhorar sua qualidade de vida, embora não haja uma cura definitiva para o autismo.
É importante entender que cada indivíduo com autismo é único, com necessidades e desafios específicos, portanto, o tratamento é altamente individualizado e pode incluir:
- Terapias comportamentais:
- Análise Comportamental Aplicada (ABA): focada em reforçar comportamentos positivos e reduzir comportamentos problemáticos por técnicas de aprendizagem;
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): ajuda na gestão de comportamentos repetitivos e na melhoria das habilidades sociais e de comunicação;
- Terapias de suporte:
- Terapia da fala e linguagem: para melhorar a comunicação verbal e não-verbal;
- Terapia ocupacional: ajuda na melhoria das habilidades motoras finas, autonomia e adaptação a diferentes ambientes;
- Intervenções Educacionais: educação adaptada para atender às necessidades individuais da criança ou adulto autista;
- Medicamentos: alguns medicamentos podem ser prescritos para tratar sintomas específicos associados ao TEA, como ansiedade, hiperatividade ou problemas de sono. No entanto, eles não tratam o autismo em si, mas podem melhorar a qualidade de vida.
A equipe trabalha em conjunto para desenvolver um plano de tratamento abrangente que aborde as necessidades específicas do indivíduo, promovendo seu desenvolvimento e maximizando sua independência.
Qual profissional pode me ajudar na minha suspeita de autismo?
Se você suspeita que possa estar no espectro autista, é importante buscar a orientação de profissionais qualificados para um diagnóstico adequado e eventual tratamento. Um bom ponto de partida pode ser um psicólogo ou terapeuta especializado em Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esses profissionais têm experiência em avaliar sintomas, comportamentos e características associadas ao autismo.
Com o avanço da telemedicina e dos serviços de saúde digital, agora é possível acessar avaliações e consultas online com psicólogos e outros especialistas por meio de plataformas como a Conexa Saúde.
Os benefícios da telemedicina incluem conveniência, acesso facilitado a profissionais qualificados, e a possibilidade de consultas no conforto da sua casa, o que pode ser especialmente útil para indivíduos com sensibilidades sensoriais ou dificuldades de deslocamento.
É aconselhável procurar um psicólogo para uma avaliação inicial, especialmente se você estiver enfrentando desafios significativos na área social, comunicação ou comportamento repetitivo.
O psicólogo pode realizar uma avaliação inicial e, se necessário, encaminhar para um psiquiatra para avaliação mais detalhada e possível prescrição de medicamentos, caso seja apropriado para o tratamento do autismo ou condições coexistentes.
Portanto, se você está considerando a possibilidade de estar no espectro autista, não hesite em procurar a orientação de profissionais qualificados. A telemedicina, por plataformas como a Conexa Saúde, pode ser uma maneira acessível e conveniente de iniciar esse processo de avaliação e tratamento.
Créditos da imagem: andreswd em iStock
Revisado por:
Maria Clara de Oliveira Scacabarrozzi
Psicóloga, pós-graduada em Psicologia Social pela Uniara e em Projetos Sociais e Políticas Públicas pelo SENAC-SP. Atua como Psicóloga Supervisora no time de Gestão em Saúde Mental na Conexa. CRP 06/158344.