O transtorno de personalidade antissocial, popularmente conhecido como sociopatia (ou psicopata, mas é um termo incorreto), é definido pela ciência como um padrão persistente de indiferença em relação às normas sociais e aos direitos alheios.
Essa condição é mais comum em pessoas do sexo masculino; contudo, segundo dados da Archives of Clinical Psychiatry, essa desordem neuropsiquiátrica afeta cerca de 1% a 2% da população global.
Conhecer essa condição é importante, primeiramente, para a obtenção de um diagnóstico preciso, mas também para saber como lidar com essa condição de maneira adequada.
Pensando nisso, elaboramos esse artigo sobre o que é transtorno de personalidade antissocial, quais os sinais deste distúrbio e os tratamentos mais indicados. Confira!
O que é transtorno de personalidade antissocial?
O transtorno de personalidade antissocial, também conhecido pela sigla TPAS, se caracteriza pela total desconsideração de normas sociais básicas de convivência e comportamento social.
Ou seja, indivíduos que apresentam esse distúrbio tendem a cometer atos ilegais, fraudulentos e imprudentes sem demonstrar culpa ou remorso, geralmente, para a obtenção de um ganho pessoal ou prazer.
Além disso, os primeiros sintomas de transtorno de personalidade antissocial podem surgir na infância. Mas, por ser um transtorno de personalidade, o diagnóstico definitivo ocorre na fase adulta, a partir dos 18 anos, quando os sinais dessa condição são mais evidentes e a personalidade do indivíduo já está mais consolidada.
Quais são os sinais e sintomas do TPAS?
Os sintomas do transtorno de personalidade antissocial são variados e refletem um padrão de descaso pelos outros. As “marcas” principais incluem egocentrismo, charme superficial, impulsividade e uma profunda falta de empatia.
Os sinais e sintomas mais comuns incluem:
- Ignorar o certo e o errado.
- Mentir constantemente, usar nomes falsos ou manipular os outros para ganho pessoal ou prazer.
- Usar de charme superficial ou sagacidade para manipular os outros.
- Arrogância, senso de superioridade e teimosia.
- Falta de empatia, sensibilidade ou respeito pelos sentimentos alheios.
- Hostilidade, irritabilidade significativa, agitação, agressividade ou violência.
- Comportamento impulsivo, dificuldade em planejar o futuro e agir sem pensar nas consequências.
- Irresponsabilidade, falhando repetidamente em cumprir obrigações financeiras ou de trabalho.
- Desprezo imprudente pela própria segurança ou pela segurança dos outros.
- Problemas recorrentes com a lei, incluindo comportamento criminoso.
- Ausência total de remorso ou culpa por ter prejudicado, maltratado ou roubado outras pessoas.
Identificar esses sinais em alguém próximo é um sinal de alerta. Mas, apenas perceber esses sinais não são o suficiente para que um diagnóstico como esse seja dado e uma avaliação clínica é sempre fundamental.
Se você tem interesse em se aprofundar em um diagnóstico, os especialistas em saúde mental da Conexa podem te ajudar a entender a situaçãom, fazer uma avaliação completa e definir os próximos passos. Agende sua consulta on-line, de qualquer lugar do mundo.
Como é feito o diagnóstico oficial do transtorno de personalidade antissocial?
O diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial deve ser feito por um médico psiquiatra ou um psicólogo, com base nas diretrizes do DSM-5-TR, que é o manual de referência para o diagnóstico de transtornos mentais.
Para que o diagnóstico seja realizado de maneira adequada, o indivíduo deve apresentar um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas, ocorrendo já desde os 15 anos, com pelo menos 3 das seguintes características:
- Violação da lei, com repetidas infrações que são motivo de detenção.
- Engano constante por meio de mentiras, uso de pseudônimos ou manipulação para ganho pessoal.
- Impulsividade, com falta de planejamento e ação imediata.
- Agressividade e irritabilidade, com envolvimento frequente em brigas físicas ou agressões.
- Desprezo imprudente pela própria segurança e pela segurança alheia.
- Irresponsabilidade consistente em diversas áreas da vida social, como no trabalho ou no pagamento de dívidas.
- Ausência de remorso, demonstrada pela indiferença ou racionalização ao prejudicar ou maltratar outros.
Além dos critérios acima, o DSM-5-TR exige duas condições não negociáveis para o diagnóstico dessa condição, em específico:
- O indivíduo deve ter pelo menos 18 anos.
- Deve haver evidências claras de que a pessoa apresentou Transtorno de Conduta com início antes dos 15 anos.
O Transtorno de Conduta é um diagnóstico pediátrico caracterizado por agressão a pessoas ou animais, destruição de propriedade, fraude ou roubo e violações graves de regras. Se esses sintomas não estavam presentes antes dos 15 anos, o diagnóstico de TPAS não pode ser feito.
TPAS, sociopatia e psicopatia: qual a diferença?
A diferença entre transtorno de personalidade antissocial e sociopatia está, na verdade, na utilização dos termos. O transtorno de personalidade antissocial (TPAS) é o termo clínico oficial para descrever essa condição.
Sendo assim, a sociopatia é um termo não oficial e mais popular para descrever esse mesmo transtorno.
Já a psicopatia é vista por muitos pesquisadores como um construto clínico distinto, embora relacionado. É frequentemente considerada um subtipo mais grave do TPAS, associada a uma maior premeditação, controle e um risco potencialmente maior de violência calculada.
Como diferenciar entre o transtorno de personalidade antissocial, narcisista ou borderline?
É comum que o público leigo confunda o TPAS com outros transtornos de personalidade, como o Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) e o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), pois todos podem envolver manipulação.
A diferença-chave está na motivação por trás do comportamento:
- vs. Transtorno Narcisista: Indivíduos com TPN também são exploradores e não têm empatia, mas tendem a não ser agressivos e enganosos como no TPAS. A manipulação do narcisista visa obter admiração e reforçar seu senso de superioridade.
- vs. Transtorno Borderline: Indivíduos com TPB também são manipuladores, mas geralmente o fazem para serem cuidados ou evitar o abandono. A manipulação no TPAS é fria e voltada para o ganho pessoal (como dinheiro, poder ou prazer).
Quais as causas do transtorno antissocial?
As causas do transtorno de personalidade antissocial ainda não são completamente claras pela medicina, mas envolvem uma interação complexa entre biologia e ambiente.
Fatores genéticos e biológicos
A pesquisa aponta para uma forte influência genética. Estudos com gêmeos mostram que o TPAS tem um componente hereditário significativo.
Especificamente, pesquisas investigam polimorfismos em genes como o MAO-A. Níveis baixos de expressão desse gene, quando combinados com histórico de abuso infantil, podem predizer moderadamente o desenvolvimento do TPAS.
Fatores de risco ambientais e familiares
Além dos fatores genéticos, o ambiente familiar também pode influenciar no desenvolvimento de distúrbios relacionados à saúde mental.
Nesse sentido, crianças que tiveram experiências traumáticas, como abusos sexuais, violência física e emocional, ou que cresceram em ambientes familiares caóticos, negligentes ou com estímulo a comportamentos antissociais, também têm mais chances de apresentar o transtorno de personalidade antissocial.
Quais são as complicações e riscos associados ao tpas?
O TPAS raramente existe isoladamente e pode trazer consequências graves e de longo prazo para o indivíduo e para quem o cerca. As complicações mais comuns incluem:
- Abuso de álcool e vício em outras drogas.
- Passagens frequentes pela prisão ou sistema legal por atos criminosos.
- Abuso de cônjuge, abuso ou negligência infantil.
- Desenvolvimento de outros transtornos mentais, como depressão e ansiedade.
- Problemas financeiros e sociais crônicos.
- Comportamentos homicidas ou suicidas.
- Morte prematura, geralmente como resultado de violência, acidentes ou suicídio.
Qual é o tratamento para o transtorno antissocial?
O tratamento para transtorno de personalidade antissocial é considerado um dos mais desafiadores da psiquiatria, pois não há, até o momento, evidências de uma melhoria consistente e duradoura de todos os aspectos que envolvem essa condição.
Os próprios indivíduos com TPAS raramente buscam tratamento por conta própria, pois não acreditam que tenham um problema a ser resolvido.
O que é usado no manejo do TPAS?
O foco do tratamento não é a resolução completa da causa, mas sim o manejo de consequências, a redução de danos e o controle de sintomas específicos. As abordagens incluem:
- Manejo de contingências: uma abordagem comportamental que se baseia na oferta de recompensas por comportamentos positivos e na aplicação de consequências por comportamentos negativos, visando objetivos de curto prazo (como evitar consequências legais).
- Tratamento de comorbidades: O TPAS frequentemente coexiste com o transtorno por uso de substâncias, que deve ser tratado ativamente.
- Medicamentos: Não existem medicamentos aprovados especificamente para o TPAS. No entanto, o médico pode prescrever medicamentos (como estabilizadores de humor, lítio, valproato ou antipsicóticos atípicos) para controlar sintomas específicos, como agressividade, impulsividade ou instabilidade do humor.
Lidar com o comportamento de alguém com suspeita de TPAS é exaustivo, desafiador, e pode ser bastante confuso. Nossos especialistas podem te ajudar a definir limites e cuidar da sua saúde mental. Agende sua consulta online.

Como conviver e lidar com alguém com TPAS?
Conviver com alguém com transtorno de personalidade antissocial pode ser uma tarefa desafiadora, e em alguns casos, perigosa. É importante adotar uma postura mais assertiva e de segurança, com cuidado para não agir de forma discriminativa com a pessoa que possui esse transtorno de personalidade.
Estabeleça limites claros e inflexíveis
O primeiro passo é estabelecer limites firmes para garantir seu bem-estar emocional, financeiro e físico. Mantenha uma comunicação direta e objetiva. Evite o confronto direto e discussões sobre moralidade (que são ineficazes), mas não ceda a manipulações, charme, vitimismo ou ameaças.
Proteja sua segurança física, emocional e financeira
A manipulação pode ir além do emocional. Além de estabelecer e reforçar seus limites, também é vital proteger-se de forma prática. Isso pode incluir procurar suporte profissional para se proteger de possíveis fraudes, dívidas ou outras questões legais, ou ter um profissional de confiança para cuidar de certas áreas da sua vida.
Tenha uma rede de apoio
É extremamente importante ter uma rede de apoio forte e duradoura, com pessoas que você pode confiar e pedir ajuda em momentos difíceis. Além disso, receber a opinião de pessoas que você confia pode te ajudar com dúvidas e questionamentos que possam surgir sobre relacionamentos.
Busque ajuda profissional… para você
Este é talvez o passo mais importante. Lidar com o TPAS é exaustivo. A psicoterapia é crucial, mas para o familiar, parceiro ou vítima.
Um terapeuta pode ajudá-lo a desenvolver controle emocional, trabalhar suas expectativas (entendendo que o tratamento de alguém com TPAS pode não gerar resultados efetivos ou duradouros) e aprender a colocar limites de forma eficaz, cuidando da sua saúde mental.
É possível prevenir o transtorno de personalidade antissocial?
Embora não seja possível prevenir totalmente essa condição com forte componente genético, a intervenção precoce em crianças que mostram sinais claros de Transtorno de Conduta é a estratégia mais eficaz. Um tratamento feito com antecedência pode reduzir as chances do desenvolvimento desse transtorno.
Evitar ambientes familiares tóxicos, abuso ou negligência também é fundamental, pois são fatores de risco ambientais conhecidos.
Qual profissional procurar?
Para o manejo do TPAS, os profissionais mais indicados são o psiquiatra e o psicólogo, que podem ajudar no diagnóstico e no controle de sintomas como agressividade, ou no tratamento de comorbidades como o vício.
Na hora de buscar por atendimento especializado, conte com os benefícios da telemedicina.
Plataformas como a Conexa Saúde possuem uma equipe multidisciplinar com psicólogos e outros profissionais que podem fornecer suporte e tratamento adequado de maneira conveniente e eficiente.
Lidar com o comportamento de alguém com suspeita de TPAS é exaustivo e confuso. Nossos especialistas podem te ajudar a definir limites, entender a situação e, o mais importante, cuidar da sua saúde mental. Agende sua consulta online.




















