Todo ano, a negligência em saúde mental custa ao mundo o equivalente a uma big tech. O impacto é coletivo e a resposta também precisa ser.
Saúde mental no trabalho só gera resultado quando o compromisso é de todos. Empresas desenham contextos e rotinas que protegem ou pressionam, pessoas desenvolvem repertório para lidar com o imprevisível.
Com esse foco, Maria Barreto, Vice-Presidente Comercial da Conexa, Rui Brandão, Vice-Presidente de Saúde Mental da Conexa, Izabella Camargo, Jornalista e Palestrante e Renata Rivetti, Especialista em Ciência da Felicidade, trouxeram aprendizados práticos no talk promovido por Conexa e Zenklub em um evento realizado em São Paulo, no dia 7 de outubro.
Um ponto norteou a conversa: saúde mental é a capacidade de lidar com imprevistos. Se o trabalho é feito de imprevistos, a cultura precisa sustentar esse equilíbrio todos os dias.
Para entender o tamanho do desafio, vale começar por onde dói: o impacto financeiro de não agir.
Uma Meta de prejuízo: o custo da negligência
O impacto financeiro da negligência com a saúde mental é gigantesco.
De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde, a perda de produtividade causada por transtornos mentais custa cerca de US$ 1 trilhão por ano à economia global.
Ou, como brincou Rui Brandão:
“Todo ano, o mundo perde o equivalente a uma Meta só com os efeitos da má saúde mental.”
Por mais que a comparação seja para mera visualização, e não em valores absolutos, uma Meta (sim, a dona do Facebook e do Instagram) de prejuízo por ano é um lembrete simbólico (e doloroso) de que cuidar de pessoas não é apenas uma questão ética, mas também econômica.
Empresas com altos índices de estresse e burnout enfrentam mais absenteísmo, maior turnover e produtividade em queda.
O contrário também é verdadeiro: culturas saudáveis geram lucro sustentável e engajamento real.
O que é, afinal, saúde mental?
A provocação feita por Izabella Camargo deixou todos que estavam presentes no evento pensativos. Foi um daqueles momentos em que paramos para refletir sobre o real significado de um termo, porém as palavras exatas para descrevê-los fogem da mente.
Após alguns segundos de silêncio, a resposta de Iza à própria pergunta foi simples e poderosa: “Saúde mental é a capacidade de lidar com imprevistos.”
Pense em um dia comum: o trânsito que atrasa a reunião, o projeto que muda de rumo, a mensagem urgente fora de hora. Todos esses imprevistos fazem parte da vida, mas a forma como reagimos a eles depende diretamente da nossa saúde mental.
Em um mundo acelerado, aprender a lidar com o que foge do controle é o verdadeiro diferencial humano. A saúde mental não é ausência de problemas (afinal, é quase impossível pensar em uma vida sem eles), é a habilidade de atravessá-los com equilíbrio.
E essa habilidade precisa ser cultivada, tanto individualmente quanto nas estruturas das empresas.
Mas números, por mais expressivos que sejam, não dão conta da dimensão humana por trás das planilhas. Cada dólar perdido representa uma pessoa que adoeceu, um time que se desorganizou, uma liderança que não soube ouvir.
É por isso que, antes de falar em soluções, é preciso voltar à essência: entender o que realmente significa ter, e promover, saúde mental.
Do discurso à prática: o papel das empresas
A boa notícia é que o tema avançou. Ambientes antes conservadores, como o Poder Judiciário, por exemplo, já têm pautado ações concretas sobre saúde mental. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Segundo os participantes do talk, muitas organizações tratam o tema como um projeto paralelo, e não como parte da estratégia central do negócio.
Renata Rivetti destacou três grandes desafios corporativos: sobrecarga, conflitos de relacionamento e desmotivação. Para ela, muitas empresas ainda tentam resolver sintomas, sem atacar as causas.
“Brindes e ambientes bonitos são simpáticos, mas não fazem as pessoas acordarem motivadas. É preciso tratar as raízes: reconhecimento, empatia e equilíbrio de carga de trabalho”, afirmou.
Afinal, passamos cerca de 100 mil horas da vida trabalhando. Se o trabalho é um espaço de desgaste, não de propósito, a conta não fecha. As empresas precisam ser espaços que contribuem para o bem-estar, não que o minam.
Produtividade sustentável: não dá pra cuidar do planeta e adoecer pessoas
Um dos pontos altos da conversa foi quando Izabella Camargo falou sobre o conceito de produtividade sustentável.
“Não adianta querer um mundo sustentável com atitudes insustentáveis”, provocou.
Em outras palavras, o discurso ESG e a preocupação ambiental precisam caminhar junto com o cuidado humano. Não faz sentido reduzir emissões de carbono enquanto se aumenta os números de burnouts.
Empresas que desejam resultados duradouros precisam de times saudáveis. Como resumiu Izabella, “não adianta bater meta se a gente bate nas pessoas”.
A solução está em criar ambientes onde líderes e liderados falem a mesma língua, onde o CNPJ se beneficie de resultados mais saudáveis e o CPF não seja sacrificado no processo.
O erro como ferramenta de aprendizado
Outro ponto sensível abordado na palestra foi o ambiente corporativo, o tão temido e comentado em posts motivacionais no LinkedIn.
E por mais que o tópico tenha diversas camadas, um dos consensos foi que um ambiente saudável é aquele em que as pessoas têm voz.
Não há inovação onde há medo. A comunicação, aberta, empática e segura, é a base para que as equipes possam aprender com os próprios erros.
Renata Rivetti trouxe uma reflexão que colocou os representantes das empresas presentes para pensar: “O erro na sua empresa é pedagógico ou punitivo?”
Segundo Rivetti, a resposta a essa pergunta revela muito sobre a maturidade emocional de uma organização.
O erro pedagógico ensina, cria espaço para melhoria contínua e fortalece o senso de pertencimento. Já o punitivo gera silêncio, apatia e medo, os piores inimigos da criatividade.
Renata reforçou que a comunicação é o que salva os ambientes de trabalho, inclusive o seu. Como o tema é bastante abrangente, por vezes é difícil enxergar o nosso negócio tomando à frente em uma questão que ainda é um tabu dentro das empresas.
Falar sobre o que não está bem, abrir espaço para escuta e agir com coerência são passos essenciais para construir culturas mais humanas.
Saúde mental como investimento estratégico
Rui Brandão reforçou que a chave para convencer lideranças é traduzir cuidado em resultado.
“Quando a empresa entende que saúde mental está diretamente ligada à estratégia, e não a um custo isolado, a conversa muda”, explicou.
Segundo ele, só 21% das pessoas estão realmente engajadas no trabalho, um número que deveria acender alertas em qualquer diretoria.
Para reverter isso, é essencial compreender o contexto de cada organização: se o problema é clínico, é o time de cuidado que entra em ação; se é cultural, é hora de trabalhar com o RH e os líderes.
As experiências da Conexa e do Zenklub mostram que personalizar programas de acordo com as dores reais das empresas traz resultados consistentes em poucos meses. “O segredo é construir junto, escutar e ajustar com o tempo”, completou Rui.
Lideranças conscientes e riscos psicossociais (NR-1)
A conversa também abordou um ponto sensível: a responsabilidade das lideranças.
Pesquisas recentes do Zenklub mostram que 40% dos líderes não se sentem preparados para lidar com questões de saúde mental.
Mais preocupante ainda: 1 em cada 3 líderes pratica comportamentos de assédio sem perceber, por desconhecer que o assédio também é um risco psicossocial.Rui lembrou que “quem assedia, muitas vezes, foi assediado antes e repete um padrão aprendido”.
Esse ciclo só pode ser quebrado com conversa e capacitação.
Ao falar abertamente sobre o tema, as empresas ajudam a criar uma nova geração de líderes mais conscientes, empáticos e responsáveis.
A NR-1, norma que estabelece diretrizes sobre saúde e segurança no trabalho, surge como uma oportunidade concreta para estruturar essa mudança. Mas Rui provocou:
“Você cumpre a NR-1 por segurança ou para não levar multa?”
A reflexão resume bem o momento atual: o cuidado precisa ser genuíno, não apenas protocolar.
Conversas difíceis e mudanças estruturais
Para avançar de verdade, é preciso encarar as conversas difíceis.
Falar sobre burnout, sobre modelos de gestão ultrapassados e sobre o medo de errar ainda gera desconforto, mas é justamente desse desconforto que nasce a transformação.
O modelo de trabalho atual, herdado de mais de um século atrás, ainda premia o presenteísmo: estar fisicamente presente é mais valorizado do que estar saudável e produtivo.
A pandemia mostrou que isso precisa mudar.
Flexibilidade, autonomia e valorização de diferentes capacidades são pilares de um novo paradigma de trabalho, onde o bem-estar não é um “extra”, mas o ponto de partida.
Quanto mais as empresas empoderam suas áreas e levam dados concretos aos líderes, mais se abre espaço para essa mudança de mentalidade. Não se trata de uma tendência passageira, mas de um convite à atualização, para empresas e para pessoas.
Cuidar é coletivo
Cuidar da saúde mental é, antes de tudo, um ato de responsabilidade coletiva. É entender que produtividade e bem-estar não competem, coexistem. É criar espaços onde o diálogo seja seguro, onde o erro ensine e onde o sucesso não custe a saúde de ninguém.
Como concluiu Izabella Camargo, “saúde mental é o que permite que a gente viva o imprevisto sem perder a essência”.
E talvez seja isso o que todos buscamos: um jeito mais humano de trabalhar, liderar e viver.
Como levar isso para sua empresa?
Um ponto que essa palestra deixou claro foi que o tema “saúde mental nas empresas” é denso e profundo. Ao se depararem com dificuldades, muitas companhias optam por não investir em soluções estruturadas e que tragam resultados.
E é para isso que Conexa e Zenklub existem: para ajudar empresas e colaboradores a acharem o meio termo, o que traz benefícios para todos.
Precisa de ajuda para levar isso dia a dia da sua empresa? Entre em contato conosco e esteja na vanguarda da saúde mental corporativa.
Revisão textual por: Tiago Campiol e Lívia Russi
Leonardo Carvalho
Analista de Marketing e redator na Conexa. Escrevo sobre temas de saúde física e mental, além de trazer novidades institucionais da empresa. Mais sobre o meu trabalho em: https://www.linkedin.com/in/leonardohcarvalho/




















