É bastante pertinente falar sobre a morte, e neste texto, pretendo deixar algumas reflexões acerca deste assunto temido, mas, sempre presente.
A gente morre todos os dias, um pouquinho, mas morre… sórdido, não? Nossas células morrem, porém se regeneram. Nossa pele também morre, para dar lugar a outras novas, nosso cabelo cai, pêlos do corpo também caem.
Perceba também que, alguns aspectos biológicos abundantes durante a juventude, não estarão mais tão presentes em nosso corpo ao passar dos anos. A mesma lógica da perda se aplica a situações do dia a dia: com a mudança de um amigo ou ente querido, a morte de algum pet, a desvinculação de relacionamentos, saída de um emprego, de uma casa, crescimento, etc.
Enfim, processos de perdas são vivenciados em todos os períodos da vida.
[tie_index]E por que a morte é algo tão tabu?[/tie_index]
E por que a morte é algo tão tabu?
Ela é tabu porque é desconhecida, causa rupturas definitivas na vida do sujeito, é algo que ultrapassa o imaginário humano, o medo do que há no escuro. A morte também é fonte de inspiração à arte em vários aspectos porque coloca em pauta a desintegração, a perda, a degeneração, por outro lado, fascínio, entrega, descanso.
A cultura tão narcísica, tão focada no eu, é inaceitável a desintegração do corpo físico, a não-existência – e como diz Bauman: “é inimaginável a probabilidade de o ser humano não mais visualizar um mundo que não inclua o próprio indivíduo descortinando-o”.
[tie_index]Lidando com a morte [/tie_index]
Lidando com a morte
“Ah, mas eu nunca vou conseguir lidar com esse assunto”, “vamos deixar para quando o momento aparecer”. Temos que ter sempre em mente que a morte é constante, e quando nos referimos em terapia, por exemplo, ao término de um relacionamento, e a dor de vivenciar tal situação, isso é chamado de luto, por uma morte: a morte de um vínculo amoroso.
A forma como lidamos com esse luto também é uma maneira de lidar com a consciência do nosso existir. E às vezes nos utilizamos de mecanismos de defesas diversos, tais como a negação, a repressão, a racionalização.
No entanto, são modos errôneos de lidar com a dor – ao invés disso, tente refletir sobre a situação e vivencie a sua dor (pode colocar uma música bem triste de fundo, abraçar o travesseiro e alagar o quarto). Ou até mesmo, utilizar esse recurso de dor para deixar a criatividade aflorar, desse modo, dar novo significado ao que foi perdido.
“Como contar para minha criança o que aconteceu com o parente falecido?”. As crianças são sempre assuntos delicados, visto que a compreensão de morte e perda são limitados. Elas sabem que, pisando em um inseto no chão, que estava em movimento e de repente parou, e na mesma posição permaneceu, está morto, e já inscreve em sua mente o que é morrer, assim como, a perda de bichinhos de estimação, morte de personagens na tevê, são modos de fazê-la apreender desde cedo o que é perder algo ou alguém.
Ao falar de morte para a criança, deve-se levar em consideração o que ela já compreende sobre o assunto. Pode-se utilizar de recursos e experiências conhecidas para melhor assimilação do ocorrido, de acordo com a fase do desenvolvimento em que ela se encontra.
A morte tal qual a escuridão é sentida de modo ameaçadora, não sabemos o que há no escuro. Quando somos crianças, achamos que algo está debaixo da cama ou dentro do armário, porque são lugares sem luz no período noturno, assim é a morte para os seres humanos.
Se não temos os pais que nos traga esclarecimento durante esse período tenro da vida, posteriormente, ao nos defrontarmos com esse medo imaginário do escuro, podemos ficar aflitos, perdidos e assustados, porque nos atravessará as questões do nosso próprio existir.
Portanto, neste processo, é de suma importância recorrer à terapia. Esse processo nos trará luz a aspectos escurecidos, que nos aterroriza, pois, trata-se do cerne da morte.
Referências bibliográficas
- CAMARGO, R. M; LANGARO, F. Vida e Morte: a morte nas decisões e planejamentos na vida. ÂNIMA EDUCAÇÃO. Florianópolis, p. 2 e 4, 2019.
- KOVÁCS, M. J. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, p. 2 e 49, 1992.