Na primeira parte da nossa discussão, você já ficou sabendo quais são os fatores por trás da resistência do homem para buscar um cuidado na saúde. Agora, vamos falar sobre como a psicologia pode ajudar a quebrar esse tabu.
Como podemos mudar?
É o que você vai descobrir agora, e ainda vai receber algumas dicas práticas!
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O trabalho na terapia
Quebrar esse tabu é difícil. O psicólogo trabalha contra uma vida inteira que diz que: se você se sente de determinada forma, é porque você é assim e que isso é errado.
É importante lembrar que muitas vezes os homens não buscam ajuda porque não estão acostumados a isso, nunca tiveram este espaço livre de fala e de escuta.
O psicólogo Aristeu Júnior, com quem conversamos para a primeira parte deste texto, nos contou que procura sempre provocar uma reflexão em seus pacientes sobre suas ações, o quanto elas são autoritárias e acabam limitando e aprisionando o outro. Ele busca fazê-los refletir também sobre o quanto isso impacta não só a vida do paciente, mas das pessoas ao seu redor.
Já na abordagem analítica, o psicólogo Jeferson Pereira entende que os sonhos dos pacientes são uma forma de comunicação com o inconsciente, que muitas vezes pode mostrar o caminho que é ignorado. “É como um quebra-cabeça”, explica, “e na terapia o paciente entende o significado. A partir da compreensão, ele pode ressignificar e dar uma nova perspectiva [para a sua vida]”.
Por isso, é preciso confiar no terapeuta e que o processo gerará mudanças.
[tie_index]Ações para quebrar o tabu[/tie_index]
Ações para quebrar o tabu
Ok, até aqui fizemos bastante reflexões, mas quais ações podem ser tomadas de forma prática para quebrar esse tabu? É o que nossos psicólogos vão te contar agora:
Às vezes o básico é a melhor opção
Aristeu é bem objetivo na resposta: “a melhor ação que podemos ter é conversar”. Parece algo muito básico, mas ele complementa dizendo que, em geral, não fazemos nem o básico. “É preciso falar para compreender que foram criados homens machucados que ferem outras pessoas, para se defender”.
Jeferson também pontua a importância da fala para a quebra de paradigmas, mas é mais enfático: “você tem que mostrar que é um desserviço esse pensamento, questionar os papéis, fazer provocações filosóficas”.
Colocando a cabeça para refletir
É preciso pensar nas suas ações, nas suas atitudes, separar o que é um pensamento seu e o que é só um cumprimento social.
Essa autocrítica nos faz agir não só na nossa vida, mas na sociedade, porque aí começamos a questionar papéis e a exigir mudanças.
Com ajuda, chegamos longe
Um dos pontos mais citados, principalmente por Aristeu, foi o trabalho feito pela juventude e as mídias sociais, que estão abrindo espaço para o debate de temas muito importantes.
Como exemplo, ele cita o tema de movimentos e lutas como o feminismo: “ Se as mulheres não lutassem antes, talvez nós homens não falaríamos sobre isso hoje, porque nossa posição é confortável”.
Este esforço deve ser uma parceria entre a sociedade e os estudiosos, que com seriedade e linguagem fácil e acessível podem ajudar a consolidar ainda mais o ressignificado da masculinidade.
Tanto Aristeu quanto Jeferson concordam que, por mais que o caminho ainda seja muito longo, aos poucos vamos entendendo que estar em uma situação de mais vulnerabilidade não é um problema, mas um sinal de que somos humanos em construção, que está trabalhando para avançar e se desenvolver.
O olhar para si mesmo
Quanto mais o homem não esperar momentos críticos para cuidar da saúde, melhor será. É preciso cultivar o autocuidado, entender e respeitar os próprios limites, sem negociar o que te faz bem. Não é problema nenhum demonstrar afeto, chorar ou falar que ama.
Jeferson sempre tenta mostrar para o seu paciente que a sensação de tristeza, fraqueza ou confusão são condições. “Esses momentos são transitórios, não é porque se sente fraco ou incompetente que você seja fraco ou incompetente.”
Muitas pessoas não se atentam para esses pontos, por isso questionar-se é tão importante: Como eu estou? Eu preciso buscar ajuda?
[tie_index]O que um homem fala na terapia? [/tie_index]
O que um homem fala na terapia?
Ambos os entrevistados disseram ter atendido poucos homens ao longo de sua carreira. Jeferson chegou até a levantar uma estatística: 85% dos seus pacientes são mulheres.
Estes valores refletem uma realidade que infelizmente é ainda muito presente. Mas, se um dos passos para quebrar o tabu é falando, então vamos lá: sobre quais temas os homens mais falam na terapia?
Autoconhecimento
Para Aristeu, o que mais faz os homens buscarem apoio com o psicólogo é o autoconhecimento: “O homem que cresceu em uma cultura machista não está mais se sentindo encaixado em lugar nenhum, porque [a nossa sociedade] não aceita mais o falso humano [que não sente]”.
A mudança é fundamental e para a abordagem de Aristeu, psicólogo humanista, essa mudança só acontece se tiver um reconhecimento, ou seja, quando a educação não for mais usada para justificar as ações, mas existir esse desejo de mudar.
Sexualidade
A sexualidade ainda é um tabu gigantesco. Na terapia, os homens falam muito de uma dificuldade de reconhecer os seus desejos e até mesmo sobre a ausência dele.
Novamente, essa questão gira em torno da concepção social: envolve a procriação, o não cumprimento de um papel social.
Em sua experiência, Jeferson diz que a maioria dos homens “não admite que sofre, tem que ter um nível de sofrimento muito grande”. Em sua análise, “falta uma reeducação em saúde para a pessoa perceber que não precisa esperar a ferida gangrenar para buscar ajuda”.
Dificuldade de expressão
Outro tema importante é a dificuldade de se expressar, o acúmulo de angústias, medos, incertezas, infelicidade no trabalho e casamento.
Para Jefferson, tudo que não é dito, que é reprimido e ignorado, acaba fermentando em nosso interior. “É como se crescessem fungos e começamos a ter dores físicas, tonturas, gastrites, que não passam mesmo com os medicamentos", explica. Neste momento, os homens procuram a terapia para arrumar sua casa interior.
Depois que conversamos com os psicólogos, tivemos a certeza de uma coisa: o objetivo do Novembro Azul é o de despertar uma discussão sobre o cuidado, que vai muito além de uma prevenção.
A adesão dessa campanha ainda é muito baixa, mas a psicologia e a medicina vão seguir trabalhando juntas para, cada vez mais, instigar a reflexão. Ela é essencial para que mais homens sejam salvos de doenças, não só do câncer de próstata, mas de doenças cardíacas, diabetes, burnout...
Você não tem a obrigação de ser forte e de se doar o tempo todo. Você não está sozinho, você não é uma ilha! Entre em contato com a gente, converse com um dos nossos psicólogos.Estamos aqui e te convidamos para ser que você é, sem julgamentos!
Referências
- https://blog.psicologiaviva.com.br/cancer-de-prostata/
- https://blog.psicologiaviva.com.br/beneficios-do-autoconhecimento/
- https://blog.psicologiaviva.com.br/psicologia-humanista/
- https://blog.psicologiaviva.com.br/saude-mental-no-ambiente-corporativo/
- https://blog.psicologiaviva.com.br/saude-mental-do-homem/
- https://blog.psicologiaviva.com.br/a-importancia-do-simbolico-para-a-psicologia-junguiana/