O que fazer quando não consigo gostar de mim?

[tie_index]Qual a importância da infância para estes problemas atuais?[/tie_index]

Qual a importância da infância para estes problemas atuais?

Em muitas situações na vida adulta o indivíduo se depara com situações em que se sente “perdido nas emoções”, “não sabe mais quem é”, “não sabe mais de que realmente gosta”, sentindo-se por vezes “estranho”. A partir daí podem surgir insatisfações relacionadas ao corpo, à imagem e aos relacionamentos em geral que levam, muitas vezes, ao retraimento ou fechamento em si.

Torna-se salutar destacar a importância da percepção pessoal e da possibilidade de integração em relação às experiências vividas, que muitas vezes encontram-se inacabadas, não-resolvidas. Olhar para a infância nestes momentos, ou seja, revisitá-la, pode ser altamente significativo e curativo também quando o indivíduo encontra-se em momentos de conflito e empacado em sua existência.

Isso porque a pessoa tem a oportunidade de experimentar emoções que muitas vezes tiveram de ser reprimidas para que ela se sentisse “aceita” pelos pais ou mesmo para atender às expectativas da sociedade e do meio em que vivia. 

[tie_index]O falso e o verdadeiro self[/tie_index]

O falso e o verdadeiro self

Aqui vale citar Alice Miller que diz que a acomodação às necessidades dos pais, em geral leva (mas não sempre) ao desenvolvimento da “personalidade como se” ou ao chamado falso self. A pessoa desenvolve uma postura na qual mostra apenas o que é esperado dela, fundindo-se a esta imagem.

O verdadeiro self não consegue se desenvolver e se diferenciar porque não pode ser vivido. Para Alice Miller, as dificuldades de vivenciar e desenvolver os próprios sentimentos, genuínos, levam a uma permanência do vínculo, que não permite a individuação.

Assim, para ela, a criança é dependente dos pais primeiro de maneira consciente, depois inconsciente, não pode confiar nos seus próprios sentimentos, não chegou a experimentá-los, não conhece suas reais necessidades, é um completo estranho para si mesmo. Nestas circunstâncias, quando adulto pode se tornar dependente de outras pessoas como parceiros, grupos e também dos próprios filhos. 

Vale citar também Antony (2009) que diz que “Criança doente emocionalmente é criança adoecida em suas relações. Família doente é sociedade doente em seus sistemas de valores, crenças, comportamentos e interações”.

Isso implica dizer que para saber quem sou, preciso saber onde estou. É este o sentido em que para a abordagem da Gestalt-terapia o ser humano é essencialmente relacional, cresce e se desenvolve na e a partir da relação.

Ele se encontra em relação à vida toda, ele é também um ser de potencialidades, que pode se transformar, não há nada definido, não sendo isso ou aquilo definitivamente. Para a Gestalt-terapia, a família é uma totalidade inserida em outras totalidades que se afetam buscando equilíbrio.

Segundo a Gestalt-terapia a pessoa está saudável quando se relaciona com o meio de forma criativa, onde atende suas necessidades e ao mesmo tempo respeita as do outro. Todavia, quando a pessoa apresenta padrões cristalizados e repetitivos na relação com o meio, ou seja, utilizando-se dos mesmos recursos para lidar com as situações, respondendo ao mundo de uma única forma, pode-se dizer que ela está com um funcionamento não-saudável.

Todas estas contribuições são de suma importância para compreensão de situações e de pessoas que dizem que não gostam de si, que se sentem estranhas e insatisfeitas consigo, dependentes, sentindo também que não conseguem enxergar suas potencialidades podendo apresentar baixa autoestima e até sintomas psicológicos. 

[tie_index]Recursos que ajudam no auto-apoio e no autoconhecimento[/tie_index]

Recursos que ajudam no auto-apoio e no autoconhecimento

  • Pratique a meditação. Ela traz benefícios para a saúde física e mental;
  • Pratique esportes ou faça atividades físicas que tenham a ver com seus gostos;
  • Ouça músicas que te tragam a sensação de bem-estar;
  • Pratique dança, se isto fizer bem a você;
  • Leia livros de assunto que você tem curiosidade e interesse;
  • Busque companhia de pessoas que façam você se sentir bem;
  • Faça pequenos diários onde possa colocar suas características e valorizar suas pequenas conquistas e compreender o que não pôde ser realizado;
  • Pratique pequenas mudanças em sua rotina, pode ser a mudança de móveis em sua casa, um passeio não planejado com a família e até mesmo colocar no papel projetos pessoais e profissionais organizando prioridades;
  • Respeite seus limites e vá até onde consegue, sempre valorizando os pequenos passos e suas reais necessidades;
  • Cuide da alimentação e do corpo.

 

[tie_index]Por que fazer terapia?[/tie_index]

Por que fazer terapia?

Ao falar da psicoterapia na abordagem da Gestalt-terapia, torna-se de suma importância fazer alguns esclarecimentos dos benefícios que o indivíduo pode conseguir.

Em um primeiro momento, pode-se dizer que a Gestalt-terapia trabalha no sentido de possibilitar ao indivíduo a awareness (tomada de consciência), onde trabalha no sentido de que a pessoa se dê conta de suas potencialidades, da experiência atual, de suas emoções, nos campos cognitivo, sensório e motor.

O indivíduo é visto como um ser de relação, onde também se trabalha responsabilidade por suas escolhas, sua vida. Na situação elencada acima de pessoas que sentem não gostar de si mesmas, de sua imagem, sentem estranhamento e não têm conhecimento de suas reais necessidades e emoções a Gestalt-terapia pode ser um grande apoio. 

Na psicoterapia a pessoa pode experienciar as vivências e emoções, aprofundando o autoconhecimento.

Isto pode ocorrer de diversas formas, seja através de experimentos com a sensopercepção, com imagens, com a fala, sendo de suma importância a awareness (tomada de consciência) neste processo.

Cabe ressaltar que cada indivíduo possui um repertório de comportamentos, uma subjetividade que também serão importantes no processo de autoconhecimento e aprofundamento em si. Juntos, psicólogo e cliente, em uma relação dialógica, dar-se-ão conta de vivências e emoções que podem ser percebidas de uma nova maneira pela pessoa e até mesmo podem treinar novas dinâmicas comportamentais que tenham a ver com ele e que o ajudem a integrar as experiências, “mastigando” as emoções e sentimentos que estão não-resolvidos.

Neste processo, cada pessoa passa a ter mais consciência de si e de suas potencialidades, podendo encontrar maneiras próprias, mais atualizadas e criativas para lidar com as situações, o que está relacionado ao maior conhecimento de si como um todo.

Estes benefícios se ampliam naturalmente em suas relações, podendo também a pessoa passar a adotar novas atitudes mais saudáveis e autorreguladas consigo. Na terapia estes aprendizados podem ser aprimorados e assim o indivíduo pode se treinar para ter uma continuidade das atuações mais criativas aprendidas em terapia.

Referências:

  1. MILLERO, Alice. O drama da criança bem dotada: como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos; tradução de Claudia Abeling.-Ed.rev.e atual.- São Paulo: Summus, 1997.
  2. ANTONY, Sheila Maria da Rocha. A criança com transtorno de ansiedade: seus ajustamentos criativos defensivos. Revista da Abordagem Gestáltica, XV(1): 55- 61, jan./jun., 2009.

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