Perder alguém querido é uma experiência universalmente dolorosa, mas quando o luto se torna prolongado e debilitante, pode se configurar como luto patológico.
Este tipo de luto ultrapassa as reações normais à perda, transformando-se em uma condição que afeta significativamente a qualidade de vida.
Assim como um céu nublado que parece nunca clarear, esse fenômeno pode obscurecer a vida da pessoa enlutada, deixando-a presa em um ciclo de tristeza e desespero.
Neste artigo, vamos explorar o que é o luto patológico, suas causas, sintomas e como superá-lo. Continue lendo para entender melhor esta condição e descobrir maneiras práticas de lidar com ela.
Entendendo o luto patológico
Existem algumas semelhanças entre o luto comum e o patológico, porém, no segundo caso, ele gera mais prejuízos e sofrimentos do que, em média, suscita nas pessoas, causando danos e impactos mais significativos do que o esperado.
Por isso, vamos olhar a definição em detalhes a seguir.
O que é luto patológico?
O luto patológico é uma reação prolongada e intensa à perda de um ente querido, que interfere de maneira significativa na vida diária da pessoa enlutada.
Diferente do luto comum, que tende a amenizar com o tempo, o luto patológico permanece intenso e impede a pessoa de seguir em frente.
Este tipo de luto é caracterizado por sintomas emocionais e físicos que persistem por um período excessivamente longo e não melhoram com o tempo.
A psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, conhecida por seu trabalho sobre o luto, descreve o processo de luto normal em cinco estágios, mas no luto patológico, esses estágios parecem estagnar, especialmente nos momentos de dor e negação.
Diferença entre luto normal e luto patológico
A principal diferença entre o luto comum e o luto patológico está na duração e na intensidade dos sintomas.
O luto normal envolve uma série de estágios emocionais que gradualmente diminuem, permitindo à pessoa reintegrar-se na vida cotidiana.
Já o luto patológico, também conhecido como luto complicado, é marcado por uma incapacidade de aceitar a perda, pensamentos intrusivos sobre o falecido e uma sensação contínua de vazio e tristeza.
Enquanto o luto normal permite eventual adaptação, o luto patológico pode paralisar a vida do enlutado, tornando cada dia uma luta dolorosa.
Como afirmou Sigmund Freud, "o luto, embora doloroso, é uma resposta necessária e natural à perda"; porém, quando se torna patológico, é como uma ferida que não cicatriza.
Sinais e sintomas do luto patológico
Sintomas emocionais
Os sintomas emocionais deste tipo de luto incluem:
- Tristeza profunda: sensação constante de tristeza que não diminui com o tempo;
- Culpa intensa: sentimentos de culpa desproporcionais ou irracionais sobre a morte;
- Ansiedade: preocupação excessiva e medo de enfrentar a vida sem o ente querido;
- Desespero: sensação de que a vida perdeu seu sentido e propósito.
Para mais informações sobre saúde mental e suporte, visite nossos artigos sobre ansiedade e depressão.
Sintomas físicos
Os sintomas físicos podem ser igualmente debilitantes e incluem:
- Insônia: dificuldade persistente para dormir ou manter o sono;
- Perda de apetite: desinteresse pela comida, resultando em perda de peso significativa;
- Dores no corpo: manifestações físicas de dor sem causa médica aparente.
Comportamentos comuns
Pessoas com luto patológico frequentemente exibem comportamentos como:
- Isolamento social: evitar interações sociais e se afastar de amigos e familiares;
- Apego excessivo a lembranças: manter pertences do falecido inalterados ou revisitar locais associados frequentemente;
- Negação da perda: comportamento que sugere a incapacidade de aceitar a realidade da morte.
Fatores de risco para o luto patológico
Certos fatores podem aumentar a probabilidade de desenvolver luto patológico, tais como:
- Histórico de depressão ou outros transtornos mentais: pessoas com histórico de transtornos mentais são mais vulneráveis a desenvolver luto patológico;
- Falta de suporte social adequado: a ausência de uma rede de apoio pode dificultar a superação do luto;
- Morte súbita ou traumática do ente querido: perdas inesperadas ou violentas podem ser mais difíceis de processar;
- Relacionamento altamente dependente ou conflituoso com o falecido: a intensidade do vínculo ou a presença de conflitos não resolvidos pode complicar o processo de luto.
Diagnóstico do luto patológico
Critérios de diagnóstico
Os critérios para diagnosticar o luto patológico incluem a persistência de sintomas intensos por um período prolongado.
Embora não haja um consenso acerca do tempo necessário para se considerar um luto como patológico, tipicamente mais de seis meses após a perda, segundo manuais de saúde mental como o DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), classificaria a condição como tal.
Esses critérios ajudam a diferenciar o luto complicado do luto normal, identificando padrões de pensamento e comportamento que indicam uma dificuldade significativa em aceitar a perda e continuar com a vida.
Avaliação profissional
A avaliação deve ser feita por profissionais de saúde mental, como psicólogos - por meio presencial ou da telepsicologia - ou psiquiatras, que utilizam entrevistas clínicas e questionários para entender a profundidade e o impacto dos sintomas.
Uma avaliação completa considera o histórico de saúde mental do indivíduo, o contexto da perda e a presença de fatores de risco adicionais.
Isso é crucial para desenvolver um plano de tratamento eficaz e personalizado.
Tratamento do luto patológico
Psicoterapia
Optar por um dentre os vários tipos de terapia é fundamental no tratamento do luto patológico.
A terapia é eficaz para ajudar os enlutados a processar suas emoções e desenvolver estratégias para lidar com a perda.
Medicamentos
Em alguns casos, medicamentos como antidepressivos podem ser prescritos para aliviar os sintomas de depressão e ansiedade associados ao luto patológico.
Estes medicamentos podem ser uma parte importante do tratamento, especialmente quando combinados com a psicoterapia, proporcionando alívio dos sintomas e facilitando o engajamento em outras formas de tratamento.
Grupos e redes de apoio
Participar de grupos de apoio pode proporcionar um espaço seguro para compartilhar experiências e receber suporte emocional de pessoas que estão passando por situações semelhantes.
Grupos de apoio oferecem uma comunidade de compreensão e empatia, o que pode ser extremamente benéfico para aqueles que se sentem isolados em sua dor.
Práticas de autocuidado
Práticas de autocuidado são essenciais e incluem:
- Atividade física: exercícios regulares podem melhorar o humor e aumentar a energia;
- Alimentação saudável: uma dieta equilibrada pode ajudar a manter o corpo e a mente saudáveis;
- Sono adequado: garantir um bom descanso é crucial para o bem-estar emocional.
É possível evitar o luto patológico?
Embora não seja possível evitar completamente o luto patológico, algumas estratégias podem ajudar a reduzir a probabilidade de desenvolvê-lo:
- Mantenha uma rede de apoio social forte: cultivar relações significativas pode fornecer suporte durante o luto;
- Participe de rituais de luto: funerais e outras cerimônias podem ajudar a processar a perda;
- Permita-se sentir e expressar a dor: suprimir emoções pode intensificar o sofrimento, então é importante dar-se permissão para chorar e lamentar.
Quando procurar ajuda profissional
Se o luto estiver afetando significativamente sua capacidade de funcionar no dia-a-dia e você sente que não consegue lidar sozinho, é crucial procurar ajuda profissional.
Um profissional da saúde pode ajudar de várias maneiras, incluindo:
- Avaliação e diagnóstico: identificar a presença de luto patológico;
- Desenvolvimento de um plano de tratamento: que pode incluir psicoterapia, medicação e estratégias de autocuidado;
- Suporte contínuo: acompanhamento regular para monitorar o progresso e ajustar o tratamento conforme necessário.
O luto patológico é uma condição séria que requer atenção e tratamento adequados.
Se você ou alguém que você conhece está passando por um luto prolongado e debilitante, considere buscar ajuda profissional.
Créditos da imagem: Halfpoint em iStock
Revisado por:
Amanda Ferreira Maximiano
Psicóloga graduada pela UNESP, especialista em psicologia hospitalar pelo HCFMUSP e especialista em atenção básica e saúde da família pela UNINOVE. Atua como Psicóloga Supervisora no time de Gestão em Saúde Mental na Conexa. CRP 06/148389.