Lidar com o luto, é ao mesmo tempo lidar com aquilo que não terá mais retorno?
O que é luto e por que ele é um processo tão difícil?
Podemos começar, pensando sobre o Luto, sob olhar de Freud, em Luto e Melancolia – 1917; onde o mesmo descreve como uma reação à perda de uma pessoa amada ou de uma abstração que a substitui (pátria, liberdade, um ideal). A pessoa não está mais fisicamente presente, ou seja, não será mais objeto de investimento libidinal do outro.
Aquela pessoa, ou abstração não terá mais sua imagem atualizada, não dará mais retorno de algo. É como se o processo de ir e vir de algo fosse interrompido. Há uma espécie de congelamento, de não atualização. Porém, psiquicamente, há uma expectativa de que algo virá, de que algo será atualizado na figura daquele que fisicamente não mais está.
O trabalho do luto é justamente este processo de entendimento de que fisicamente a pessoa amada, admirada não está mais ali, mas ainda existem lembranças, memórias sobre esta; numa tentativa de aliviar e/ou não aceitar a perda deste “ objeto “. A intenção do processo de luta é justamente redirecionar o investimento libidinal para outros objetos.
Os 4 estágios do luto: como reconhecer cada fase
Segundo Freud, existem estágios de luto. Onde pode-se citar:
- 1 – Choque e negação : “ Isto não pode estar ocorrendo “.
- 2 – Dor aguda e ruminação : Revisita memórias e laços.
- 3 – Desligamento Libidinal : Redirecionamento paulino da libido para outros objetos.
- 4 – Reconstrução : o ego, agora desimpedido da ligação com objeto perdido, pode reinvestir em outros “ objetos” .
Como o acompanhamento psicológico/ psicanalítico pode ajudar no luto?
É de suma Importância o acompanhamento do sujeito em seu processo de luto, por envolver o processamento de entendimento da perda de seu objeto de investimento libidinal. Que não se trata de um esquecimento daquele que faleceu ou abstração.
Trata-se na verdade, de onde colocar este afeto, esta história com o outro. Não é sobre apagamento de toda uma construção afetiva com o que se foi. É a construção de uma outra/nova forma de se relacionar com este momento. Um respeito a singularidade do sujeito; ou seja, cada um terá sua própria construção, sua própria forma de lidar com este cenário.
Recursos e grupos de apoio para quem está enfrentando o luto
O processo de luto, não é um processo solitário somente. Há a necessidade dos mais próximos terem o entendimento de que a maneira de como o sujeito vai lidar com esta perda, é muito pessoal, peculiar. Não há como haver um padrão para lidar com este cenário.
O luto é um ato de fala, de tentativa de simbolização.É um processo intersubjetivo. Por este motivo, é muito importante o amparo, o respeito pela maneira como o sujeito realiza seu processo, seu ritual de processamento de luto.
Conclusão
Independente da abordagem empregada no acompanhamento ao sujeito em processo de luto, é de suma importância entender que se está diante de outro ser humano, e que a maneira de como vai lidar com o luto é peculiar.
É um processo bem complexo de atravessamento, de um ato de novas formas de lidar com seus afetos, uma atualização. Não se trata de buscar o apagamento de memórias, laços; mas de proporcionar ao sujeito, lidar com esta perda.
Não é sobre “ fazer parar de doer”. Tem a ver com auxiliar o sujeito a lidar com este sentimento. E, que não há problema nenhum em sentir-se triste por não ter mais a companhia daquele sujeito que de certa forma, era testemunha ( ou não ) de sua própria vida. Porém, trazer o entendimento de que a tristeza como um momento, não como uma aderência, como um lugar constante.
Daniel Reis
Só pode haver psicanálise, se houver respeito, carinho, estudo e curiosidade sobre o outro. Sobre como o outro dá conta de se fazer Existente. Sou Psicanalista , Sup. e Prof. em Psicanálise e Pesquisador. Inicie seu processo Analítico! https://zenklub.com.br/psicanalistas/daniel-da-costa-reis/
