No ano passado o Brasil destinou 97 milhões de reais para a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS, um aumento de 200% em relação a 2018, com 33 milhões, segundo o Ministério da Saúde.
A necessidade de investimento nesse setor pode ser explicada pela demanda. Como já mostramos no blog, o Brasil lidera rankings de vários transtornos mentais.
Mas é bom lembrar que os recursos ainda estão aquém do necessário, segundo relatório da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), integrante da OMS.
Os déficits vão de três vezes aos gastos atuais em países de alta renda a 435 vezes aos gastos em países de baixa renda da região, segundo relatório “A carga dos transtornos mentais e Região das Américas, 2018”.
Ao longo do artigo a seguir vamos entender essa relação, como ela sobrecarrega os gastos do Sistema de Saúde e como a situação pode ser equalizada. Então, continue a leitura e tome nota!
Desafios
Segundo o relatório da OPAS há alguns desafios no financiamento adequado dos serviços de saúde mental:
- Inconsistência de dados reportados sobre investimentos de saúde mental nos países;
- Carga subestimada dos transtornos mentais;
- Necessidade que haja vontade política para enfrentar as mudanças necessárias para a melhoria dos serviços.
Prevenção
Ele aponta ainda a necessidade de mudança no direcionamento dos recursos. Atualmente, países de baixa renda destinam a maior parte aos hospitais psiquiátricos, contrariando orientações da OMS, que pede o fechamento desses lugares.
A organização indica serviços integrados, com atenção primária ou em hospitais gerais com acompanhamento social. Isso deixa as pessoas mais propensas a procurar ajuda, pois facilita o acesso e afasta o estigma de isolamento desses hospitais.
Brasil
O Brasil já segue esse modelo através da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS, destinada a pessoas com depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo e até sequelas de uso de crack, álcool e drogas em geral.
Essa rede organiza e estabelece fluxos para esses atendimentos, que vão desde os menos complexos aos mais graves.
Rede
A RAPS é formada basicamente por quatro pilares:
- Centros de apoio Psicossocial (CAPS): Serviços abertos e comunitários formados por equipes multiprofissionais que atuam em processos de crise ou reabilitação psicossocial. Ao todo são 2.661 em todo país;
- Serviços Sociais Terapêuticos (SRT): Casas destinadas a moradia de pessoas com transtornos mentais, incluindo usuários de álcool ou drogas que tiveram alta de internações psiquiátricas e sem suporte financeiro ou familiar. Atualmente são 686;
- Unidades de Acolhimento (UA): Oferece cuidados de saúde 24h/ dia a pessoas com problemas por uso de álcool e drogas, em situação de vulnerabilidade social, com tempo máximo de permanência de seis meses. São 65 unidades;
- Leitos em Hospital Geral: Destinados especificamente ao manejo de pacientes com quadros clínicos agudos, com atendimento 24h/dia. Hoje são 1.622, em 305 hospitais;
- Equipes multiprofissionais: formadas por psiquiatras, psicólogos, assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, enfermeiro, que atuam no tratamento dos pacientes com problemas mentais.
Investimentos
O custo para manter todo esse sistema é alto. Como citamos na abertura do texto, no ano passado foram 97 milhões de reais para a ampliação da rede.
Apesar das Américas estarem aquém do necessário quanto à saúde mental, ela é cada vez mais reconhecida como prioridade global de saúde e desenvolvimento econômico.
Prova disso é o Objetivo Sustentável 3, que refere ao compromisso de ter uma cobertura universal de saúde que inclua “Saúde mental e bem-estar”.
Como equalizar
Embora haja investimentos as pessoas continuam não tendo tratamento adequado e eficaz por três motivos, segundo a OMS:
- Falta de acesso aos serviços;
- Estigma cultural;
- Pouca capacidade resolutiva da atenção primária.
Talvez lançar o olhar sobre esses três pontos possa ajudar a diminuir essa conta. E principalmente: manter o bem-estar da população.
Texto: Luciana Cavalcante