O termo gaslighting se refere a uma manipulação psicológica, onde o abusador mente, distorce a realidade e banaliza sentimentos da vítima da forma que quiser com o intuito de desorientar e controlar o comportamento da pessoa.
Em 2018, o Dicionário de Oxford reconheceu “gaslighting” como uma das palavras mais populares na data.
Mas, de fato, o que configura esse tipo de manipulação? Neste artigo, exploramos formas de identificar, como saber se você sofre esse abuso e de que forma esse problema pode ser resolvido.
Continue a leitura e entenda tudo sobre o gaslighting.

Por que se chama gaslighting?
Embora a ocorrência desse tipo de manipulação aconteça há milhões de anos, o gaslighting só foi criado e ganhou notoriedade recentemente, quando a sociedade, naturalmente, começou a se preocupar mais com questões relacionadas à saúde mental, bem-estar e segurança psicológica.
A origem do termo vem de um filme de 1944, chamado Gaslight.
O enredo do longa conta a história de um homem que manipula a esposa para que ela acredite que está louca. Tudo isso para ganhar a fortuna dela.
Ele faz isso de várias maneiras. Todas calculadas e visando confundir sua mulher. A manipulação é tão poderosa que faz com que ela duvide de si mesma e acredite que está imaginando coisas.
De quais formas o gaslighting se manifesta?
Mesmo que nem sempre tenha um objetivo maior, como roubar a fortuna de alguém, o gaslighting, na vida real, acontece com frequência. E, embora a maior característica do abuso seja a manipulação, ele se manifesta de diferentes formas. As principais formas de manifestação são:
Distorção da realidade
Uma das principais estratégias que gaslighters usam para ganhar controle e poder sobre a vítima é com a distorção da realidade.
Isso geralmente começa com uma manipulação sutil. O abusador distorce situações pequenas, fazendo com que você duvide da sua percepção. Pode ser uma mudança mínima, mas suficiente para que você comece a se questionar.
O gaslighting pode começar com algo simples, como quem esqueceu de apagar a luz da sala, ou quem deixou a janela aberta.
Claro, é importante ressaltar: não é porque uma pessoa culpou a outra por algo que há ocorrência de gaslighting. O abuso vai muito além disso e compreende outros sinais e intenções.
No gaslighting, com o passar do tempo, conforme a vítima acredita mais no abusador do que em si mesma, as distorções aumentam de tamanho. O abusador mente descaradamente sobre coisas importantes e grandes. Ele faz você acreditar que suas memórias estão incorretas.
Com o tempo, você começa a desconfiar de suas próprias lembranças.
Negação de fatos
Outra estratégia dos manipuladores é a negação de fatos. Mesmo com provas, o abusador insiste que o que você viu, ouviu ou sentiu não é verdade. Essa negação faz com que você pense que está exagerando e criando cena.
Banalização dos sentimentos da vítima
Outro sinal que configura gaslighting é a banalização dos sentimentos da vítima. Como se tudo o que ela sentisse fosse frescura.
O abusador faz ela acreditar que suas reclamações são irrelevantes e exageradas. É muito comum ouvir que “não é pra tudo isso”.
Quando você expressa uma emoção, o abusador a minimiza e diz que você está “sendo dramático” ou “exagerando”. Isso mina sua confiança em si mesmo e no que você sente.
Ameaças e chantagem emocional
Como tudo tem a ver com controle e poder, ameaças e chantagem emocional são comuns no gaslighting.
Elas surgem em momentos onde o abusador precisa instigar medo na vítima. Ameaçar é uma estratégia que controla alguma ação que o abusador não quer que a outra pessoa faça.
Ele faz com que a vítima acredite que se ela fizer alguma coisa que ele não queira, ele vai fazer algo de ruim à vítima ou ainda a si mesmo.

Como identificar se estou sofrendo gaslighting?
Como explicamos, o problema acontece quando há a intenção de controlar e ter poder sobre a vítima. Para entender se você é vítima desse tipo de violência psicológica, é importante ficar atento a alguns sinais.
Sua sanidade é questionada
O abusador sempre leva você a acreditar que não está com a sanidade em dia. Sempre que você expressa suas preocupações, ele afirma que você está exagerando, sendo irracional ou emocional demais, fazendo você questionar suas percepções.
Você se desculpa constantemente, mesmo sem saber o porquê
Vítimas de gaslighting costumam pedir desculpas por tudo, mesmo quando não têm culpa.
Essa constante necessidade de se desculpar vem da manipulação e da dúvida que o abusador cria sobre sua capacidade de julgamento.
Sempre tem um “mas…”
Ele pode até pedir desculpas, mas o manipulador sempre evita assumir a responsabilidade pelos seus atos. Assim, de uma forma ou de outra, a culpa é da vítima.
Suas lembranças são invalidadas
Outra forma de saber se você sofre gaslighting é analisar se você sente suas lembranças invalidadas com frequência. Um forte indício de que a violência existe é quando a vítima sempre está confusa sobre o que é ou não realidade.
Você começa a se isolar de outras pessoas
O gaslighter pode fazer você sentir que ninguém mais vai entender você ou que só ele “te ama”.
Assim, aos poucos, você começa a se afastar de amigos e familiares. Com o círculo social cada vez menor, o controle do abusador sobre você aumenta ainda mais.

Frases que vítimas de gaslighting escutam com frequência
Juntamente com as ações, algumas frases são proferidas continuamente por pessoas manipuladoras. Vítimas dessa prática tendem a ouvir com frequência frases que instiguem medo, dúvida e falta de controle.
São comuns, no dia a dia de quem sofre com gaslighting, ouvir frases como:
1. “Você é louco!”’
Para colocar em dúvida a sanidade do outro, o manipulador sempre profere comentários que questionam a racionalidade da vítima.
O manipulador usa essa expressão para atacar diretamente a estabilidade emocional e mental da pessoa e faz com que ela comece a questionar sua própria sanidade.
Ao rotular a vítima como “louca”, o abusador pretende desqualificar qualquer crítica ou questionamento, tirando a adição de suas percepções e sentimentos.
Isso faz com que a vítima se sinta confusa e até culpada por perceber a realidade de forma diferente, o que a deixa ainda mais vulnerável à manipulação.
Com o tempo, ouvir repetidamente que é “louca” leva-a a acreditar que realmente tem algo de errado com ela. O que promove um ambiente propício à dependência emocional e dificultando ainda mais a capacidade de reagir e buscar ajuda.
2. “Era só uma brincadeira, para de exagerar”
Para minimizar os impactos e deixar a manipulação mais sutil, os abusadores acusam as vítimas de serem frescurentas ou exagerarem nas emoções.
Ao dizer que era “só uma brincadeira”, o manipulador tenta deslegitimar a dor ou desconforto da vítima, fazendo-a parecer exagerada ou sensível demais.
Essa tática desvia sutilmente o foco do comportamento abusivo e coloca a responsabilidade na vítima e aumenta o ciclo de manipulação e controle.
3. “Eu errei, mas você me provocou”
Como explicamos, a tendência da manipulação é que nada nunca seja de responsabilidade do abusador. É como se ele estivesse sempre certo e, a vítima, fosse sempre inferior a ele.
O gaslighter sempre vai fazer com que a vítima se sinta humilhada e merecedora daquela humilhação. Por isso, a culpa nunca é da pessoa que manipula, mas daquela que foi manipulada.
Assim, mesmo quando pede desculpas, a responsabilidade pelo ato do manipulador sempre será da vítima.

4. “Isso é coisa da sua imaginação”
Para ter controle e poder, o abusador sempre vai colocar em cheque a realidade da vítima e fazê-la ficar em dúvida sobre o que ela sabe.
O abusador usa essa tática para deslegitimar o que a vítima vivenciou, criando uma sensação de desorientação e descrença em sua própria mente.
Ao insistir que o que aconteceu é “imaginação”, o abusador mina a confiança da vítima em sua capacidade de interpretar a realidade.
5. “Eu nunca fiz isso”
Essa frase é uma das formas mais comuns no gaslighting. Negar eventos que de fato aconteceram é uma estratégia comum nos manipuladores.
Novamente, como forma de controle, os abusadores colocam a vítima em estado de confusão. As mentiras frequentes entram na mente da outra pessoa que passa a acreditar em uma nova “realidade”.
É como se, no momento em que acontecesse, ela soubesse que realmente aconteceu. Mas, ao falar com o manipulador, ele usa argumentos tão persuasivos e convincentes, que a vítima passa a acreditar que ele está certo e ela errada e que ele nunca fez de fato o que ela até então sabia que ele havia feito.
Se essas e outras frases que instigam você a duvidar de si mesmo e ficar confuso sobre a sua realidade são comuns no seu dia a dia, é hora de buscar ajuda profissional.
Ao perceber os sinais de que você sofre com o gaslighting, é necessária a ajuda de um psicólogo. Isso porque, esse tipo de abuso desencadeia o surgimento de diversos transtornos emocionais e psicológicos que só podem ser minimizados com apoio especializado.
Não sofra sozinho. Busque ajuda de um psicólogo para sair dessa situação.

Quais os impactos do gaslighting na vida da pessoa?
Não é fácil conviver com nenhum tipo de abuso. Com violência psicológica não é diferente. O gaslighting impacta negativamente diversas áreas da vida da vítima.
Além do mal-estar contínuo e o constante sentimento de insanidade e insegurança, a humilhação que a vítima passa impacta de forma tão intensa o emocional que pode desencadear outros transtornos psicológicos. Os mais comuns nesse caso são:
Ansiedade
Uma pessoa que sofre com o gaslighting vive em um constante estado de “pisar em ovos”. Como ela pode, a qualquer momento, ser contestada e submetida a diálogos que colocam a sua confiança em cheque ou que a ameacem, a ansiedade é um transtorno que acontece com frequência.
Esse estado de alerta e tensão faz com que a vítima fique emocionalmente exausta. Pelo medo de perder o controle – que fica apenas nas mãos do abusador – quem passa por isso está sempre estressado, preocupado e vulnerável.
Dependência emocional
A pessoa que pratica o gaslighting coloca a vítima sempre em uma situação de inferioridade, invalidação, insuficiência.
Ele faz ela acreditar que apenas ele consegue amar ela e que apenas ele a entende. Apenas ele tolera as loucuras e insanidades da vítima. Por estar sempre com a razão, a vítima sempre fica na posição do culpado. Assim, ela passa a se sentir insuficiente.
O pensamento que se perpetua é de que já que sempre o manipulador está certo e apenas ele é capaz de amá-la, é necessário se apegar ao máximo a ele.
Assim, surge a dependência emocional. O ciclo de abuso fica ainda mais difícil de ser quebrado e tende a ficar cada vez mais intenso. A vítima mais vítima e o manipulador mais controlador.
Favorece a Depressão
Outra marca psicológica que o Gaslighting pode deixar em alguns casos é a depressão. A manipulação constante leva a vítima a perder a confiança em si mesma e em sua percepção da realidade.
Ao ser continuamente desacreditada, a pessoa começa a se sentir impotente, infeliz e isolada. O abusador frequentemente minimiza os sentimentos da vítima, o que pode corroer sua autoestima.
Com o tempo, a vítima pode se sentir desvalorizada e desamparada, o que pode levar ao surgimento da depressão.
A sensação de não ter controle sobre sua vida, somada à manipulação emocional que distorce memórias e experiências, pode levar à perda de interesse em atividades que antes lhe traziam prazer e à sensação de desesperança.
Esse ciclo de dúvidas, baixa autoestima e isolamento emocional acaba criando um ambiente propício para o desenvolvimento da depressão.
Quando a pessoa que sofre com o gaslighting desenvolve esse tipo de condição psicológica, ela tende a perdurar por algum tempo. Por isso, buscar ajuda psicológica é tão importante.
Com um profissional especialista, a vítima consegue sair daquela situação o quanto antes e continuar o tratamento específico para seus problemas emocionais.
Quem está mais propenso a sofrer gaslighting?
Esse tipo de violência psicológica é mais comum em relacionamentos amorosos – embora não se restrinja somente a eles e possa ocorrer em qualquer tipo de vínculo.
Isso ocorre porque relações amorosas geralmente envolvem um nível profundo de confiança e vulnerabilidade, o que abre espaço para o abusador manipular a vítima sem que ela perceba imediatamente.
Pessoas em relacionamentos desequilibrados, onde uma das partes tem mais poder ou tenta controlar a outra, estão especialmente propensas a sofrer gaslighting.
Aqueles com autoestima baixa, forte necessidade de agradar, ou que têm dificuldades em impor limites são os mais vulneráveis.
Essas características tornam a vítima mais suscetível a aceitar manipulações e abusos.
Como lidar com uma pessoa que faz manipulação emocional?
É importante falar que, o melhor remédio para lidar com gaslighters é não lidar. Não se expor a esse tipo de comportamento é a forma mais segura de lidar com pessoas que fazem manipulação emocional.
No entanto, não é sempre que podemos nos afastar deles. Ou, nem sempre é fácil. Mas, sempre que possível, se afaste e mantenha o menor convívio possível.
Quando você ainda não consegue se afastar de pessoas abusivas, é importante agir com cautela e estratégia. Nesse sentido, é importante que você:
- Estabeleça limites claros e não ceda às provocações do manipulador;
- Reafirme seus sentimentos e confie nas próprias percepções, se necessário, com registros do que aconteceu;
- Busque apoio de terceiros, como amigos, família ou profissionais de saúde mental.
Como superar o gaslighting?
Superar o problema é um processo que exige tempo, apoio e resiliência emocional. Não é um processo fácil, mas pode ser aliviado e menos pesado quando se tem ajuda. As estratégias envolvem:
- Retomar a autoestima
- Ter convívio com outras pessoas
- Encerrar o ciclo com o manipulador o quanto antes
- Resgatar a autoconfiança
Buscar terapia pode ser um passo importante para reconstruir a autoestima e aprender a confiar novamente em suas próprias percepções.
A terapia oferece um espaço seguro para processar suas emoções, entender o impacto do abuso emocional e desenvolver mecanismos para lidar com isso.
Além disso, um fator crucial para superar o gaslighting é distanciar-se da relação abusiva. Isso significa laços com o abusador ou conviver apenas o mínimo possível com ele.
Reconhecer que você não é um problema e que seus sentimentos são válidos, é indispensável para a melhora. Por isso, o apoio de amigos e familiares é tão importante no processo. Eles ajudam a falar o que externamente parece muito claro, mas pessoas que sofrem com o problema não conseguem sentir e captar.
Apoio emocional para entender e superar o problema
Por estarem fragilizadas e vulneráveis, é essencial o apoio emocional para entender e superar o gaslighting.
Voltar o convívio com amigos, familiares e pessoas de confiança é indispensável para acabar com o ciclo de abusos.
O apoio emocional familiar é muito importante para tirar fisicamente a vítima do contato com o manipulador. E, é claro, ajudar emocionalmente também. Dessa forma, é possível recuperar a autoestima, entender que o mundo não gira em torno do manipulador e a confiar em si mesmo de novo.
Além do apoio de pessoas à sua volta, é crucial o apoio psicológico. Isso porque, o gaslighting, mesmo quando acaba, deixa marcas.
Pessoas que sofrem com o mal, ficam com sequelas emocionais que carecem de um tratamento especializado. Tratar a ansiedade, depressão, dependência emocional e qualquer outra condição que o abuso tenha acarretado só é possível com a ajuda de um terapeuta capacitado.
Na Conexa Saúde, você agenda uma consulta online rapidamente e é atendido logo em seguida. A agilidade no atendimento é fator crucial para o tratamento e a recuperação do bem-estar da vítima.
São dezenas de psicólogos à disposição prontos para ajudar você a superar o gaslighting. Agende ainda hoje a sua consulta!

Créditos da imagem: tzahiV em iStock
Maria Clara de Oliveira Scacabarrozzi
Psicóloga, pós-graduada em Psicologia Social pela Uniara e em Projetos Sociais e Políticas Públicas pelo SENAC-SP. Atua como Psicóloga Supervisora no time de Gestão em Saúde Mental na Conexa. CRP 06/158344.