As funções psíquicas são elementos criados para compreender a composição do funcionamento de uma pessoa. Quando elas têm desempenho adequado são sinais que contribuem para qualidade de vida satisfatória.
Mas, quando estão em disfunção, são sinais e/ou sintomas que indicam adoecimento psíquico quantitativo e/ou qualitativo.
Segundo Cheniaux (2017) e Dalgalarrondo (2019) podemos ter vários tipos de funções psíquicas distintas, mas, que se complementam ao serem executadas.
Elas são detalhes que muitas vezes ficam imperceptíveis em uma avaliação psíquica, então é interessante conhecer um pouco e formar a noção de que em uma avaliação são compiladas inúmeras informações.
A seguir consta um resumo com alguns exemplos para conhecimento:
1. Afeto
Estados psíquicos afetados pela agradabilidade ou desagradabilidade, dão cor, brilho e calor as vivências. Surgem como consequência de ações que visaram uma satisfação de necessidade. Incluem emoções, sentimentos, paixões e humor.
Alterações podem ser várias, por exemplo:
- Embotamento afetivo, o afeto está distanciado e/ou empobrecido;
- Exaltação afetiva, aumento da intensidade ou duração de forma desproporcional a situação ou objeto que motivou o afeto;
- Labilidade afetiva, uma instabilidade e dificuldade em controlar as mudanças frequentes nos afetos.
2. Aparência
Conjunto de cuidados higiênicos e estéticos relativos ao corpo.
Alterações: aparentar descuidado, desleixado, parecer bizarro, exibicionista, ter comprometimento na higiene corporal.
3. Atenção
É o processo de direcionamento da Consciência de forma interna ou externa, auxilia-a ao selecionar e manter a concentração da atividade mental sobre algo.
Alterações:
- Hipoprosexia, diminuição da atividade da atenção atingindo a tenacidade (capacidade de concentração, manter a atenção) e a mobilidade (capacidade de desviar a atenção a coisas diferentes);
- Rigidez da atenção ou distração, há alta capacidade de concentração, de manter a atenção gerando desatenção as outras coisas não focadas no momento;
- Labilidade da atenção ou distraibilidade, uma instabilidade com alta capacidade de desviar a atenção a coisas diferentes com incapacidade para fixar-se em algo que exija esforço.
4. Atitude ou Comportamento
Abrange a fala, gestos, mímicas e outros movimentos corporais.
Alterações: podem ser muitas atitudes do tipo não cooperante, oposição, fuga, querelante, arrogante, invasivo, inibido, irônico, manipulador, sedutor, submisso e etc.
5. Consciência
Vivência interna e atual, reflexiva, soma total das experiências conscientes, faz distinção entre o self/eu e o não eu. Integra todos os processos mentais em dado momento com intencionalidade.
Pode ser compreendida como vigilância, ou seja, estado de ativação, de lucidez, de alerta com o sensório claro.
Alterações são diversas, exemplos:
- Perda da consciência de continuidade da própria ação, sensação de que ao agir é outra pessoa ou outra força que toma iniciativa;
- Coma, a ausência completa da consciência;
- Desorientação autopsíquica, uma diminuição ou perda da consciência da identidade do eu.
6. Inteligência
Capacidade de usar processos metacognitivos para compreender, elaborar e avaliar conteúdos intelectuais que objetivam realizações e adaptações com eficiência, soluções satisfatórias. Pode ser compreendida como uma função composta.
Alterações: déficit intelectual por desenvolvimento deficiente ou deterioração intelectiva.
7. Imaginação
Essa função está ligada a imagens e ideias abstratas, criar novos conceitos, conexões entre representações e conceitos preexistentes.
Alterações: pseudologia fantástica ou mentira patológica (relatos de histórias fantásticas e heróicasheroicas criadas com intencionalidade de impressionar).
8. Linguagem
Fazem acontecer a comunicação social, a expressão de vivências internas, organizam a experiência sensorial e dos processos mentais, transmitem conhecimento e regulam condutas. Faz parte da função psíquica pensamento.
Alterações podem ser muitas, exemplos:
- Agrafia, incapacidade para escrever;
- Alexia, incapacidade para leitura;
- Mutismo, ausência da fala;
9. Memória
É o armazenamento de conhecimento e experiências através da fixação, conservação e evocação.
Também pode distinguir as pessoas pelos tipos de memórias portadas (psicológica, genética, imunológica e cultural).
Alterações podem ser de vários tipos, como:
- Amnésia anterógradas, impossibilidade de formar novas lembranças de longo prazo;
- Amnésia retrógradas, impossibilidade de evocar eventos anteriores a seu surgimento;
- Hipermnésia anterógrada, capacidade exagerada de armazenar novas informações;
- Hipermnésia retrógrada, excesso de recordações em pouco tempo.
10. Orientação
Capacidade de situar-se em relação a si mesmo e ao ambiente, vivência do tempo e do espaço, resultado da apreensão entre si e as percepções para atribuir significações ao contexto.
É um produto da integração de várias funções psíquicas.
Alterações são diversas, como:
- Desorientação amnéstica, prejuízo na memória recente que não permite fixar informações;
- Desorientação confusa, prejuízo na consciência que gera disfunção na atenção, na concentração, na memória recente e de trabalho e ainda na apreensão e integração da realidade;
- Falsa orientação delirante, orientação falsa surgida por ideias e pensamentos que não condiz com a realidade.
11. Pensamento
Recurso de raciocinar, de antecipar, de examinar e de ponderar algo, pensamento é a construção de modelos de realidade, de conceitos, de juízos e de simulação.
Alterações:
- Curso, pode ser acelerado, alentecido ou interrupto;
- Forma, pode ser fuga de ideias (variações rápidas de temas), desagregação do pensamento (ações de ideias são incompreensíveis para o ouvinte), prolixidade (exagero em detalhes irrelevantes), minuciosidade (excesso de detalhes relevantes), perseveração (fixação em tema com empobrecimento dos processos associativos e perda de flexibilidade);
- Conteúdo, pode ser do tipo concretismo (discurso pobre, abstrato), ideias delirantes (ou delírios, são convicções patologicamente falsos, com conteúdo impossível), e sobrevalorizadas (uma ideia errônea por superestimação afetiva).
12. Psicomotricidade
São movimentos corporais, ações que possuem conteúdo psicológico, feitos de forma consciente e voluntária para uma finalidade. Fazem parte da função psíquica volitiva.
Alterações são muitas, exemplos:
- Estupor, abolição dos movimentos voluntários;
- Hipercinesia, aumento patológico do movimento voluntário;
- Estereotipias, ações desprovidas de finalidade e sentido.
13. Pragmatismo
Capacidade de realizar aquilo que deseja ou que planejou, comportamento direcionado ao objetivo. É a forma de medir o desempenho conjunto das funções psíquicas.
Alterações: hipopragmatismo (diminuição) ou apragmatismo (abolição).
14. Prospecção
Planejamento da própria vida, reflexo da expectativa do seu futuro.
Alterações: formulação de planos absurdos, pessimistas, destrutivos.
15. Sensopercepção
Primeiro contato de conhecimento do mundo externo, gera as informações do ambiente necessárias à sobrevivência. A sensação é um fenômeno resultante das alterações produzidas por estímulos externos sobre os órgãos sensoriais.
Já a percepção é um fenômeno consciente que resulta da integração das impressões sensoriais parciais e da associação dessas representações.
Alterações podem ser muitas, seguem as mais frequentes:
- Hiperestesia ou hiperpercepção, aumento da intensidade perceptiva;
- Hipoestesia ou hipopercepção, diminuição da intensidade perceptiva;
- Ilusão, um objeto serve de estímulo para a percepção de outra coisa;
- Alucinação, percepção de algo sem a presença de um objeto que estimule;
16. Vontade
Conjunto de atividades psíquicas direcionadas para a ação, inclui o impulso que é um estado motivacional que induz a ação e a vontade que é um processo de escolha consciente de direcionamento.
Alterações podem ser várias, como:
- Hipobulia, uma fraqueza, diminuição no desejo, falta de vontade e de energia;
- Atos impulsivos, são atos súbitos, incoercíveis e incontroláveis;
- Atos compulsivos, primeiro pode haver luta ou resistência em executar um ato, mas com falha nessa tentativa o ato é feito de forma frequente, ritualizado e para aliviar sofrimento.
A avaliação psíquica pode ser feita por observação e diferentes tipos de entrevistas, geralmente incluem o Exame do Estado Mental-EEM, as vezes podem ser complementadas com questionários, testes psicológicos e exames físicos e laboratoriais.
Quando uma pessoa passa por essa avaliação, o avaliador pode identificar nas disfunções dessas funções psíquicas a base de um adoecimento mental e compreender as diferentes manifestações clínicas.
Por isso, é primordial uma avaliação psicopatológica descritiva do caso, para descrever e categorizar, e posteriormente poderá utilizar da psicopatologia explicativa, para instruir.