Quando o estresse tomou o lugar da minha vida
Eu fui líder na área de TI por anos. Trabalhei em ambientes com alta pressão, demandas constantes dos clientes e prazos apertados que pareciam nunca dar trégua. Era comum sair tarde do trabalho, dormir com a cabeça acelerada e acordar já pensando em tudo que precisava resolver. Mas teve um episódio que me marcou. Eu estava no cinema com meu marido, tentando aproveitar um raro momento de lazer, quando o celular tocou. Era o cliente.
Saí da sala escura, atendi, resolvi a demanda. E quando voltei… o filme já tinha passado, e com ele, aquele momento de conexão que tanto fazia falta. Percebi que aquela não era uma situação pontual. Era recorrente. E mais do que isso: estava me roubando a qualidade de vida. Foi aí que comecei a refletir: o que estava acontecendo comigo? Por que eu não conseguia mais desligar, nem por duas horas?
O que é o estresse e a ansiedade?
O estresse é uma resposta natural do corpo diante de uma pressão ou ameaça — real ou percebida. Pode até ser positivo em doses pequenas (como o frio na barriga antes de uma apresentação), mas quando constante, se torna crônico e destrutivo. Já a ansiedade é a antecipação de algo que ainda nem aconteceu. Ela coloca a mente em estado de alerta constante, criando cenários catastróficos, acelerando os batimentos, apertando o peito, tirando o sono e a clareza. Ambos são mecanismos de defesa. O problema é quando se tornam o estado padrão.
Como diferenciar o estresse e a ansiedade no dia a dia?
Nem sempre é fácil perceber o que estamos sentindo — principalmente quando tudo parece misturado. Mas existem sinais que ajudam a identificar: – O estresse costuma estar mais relacionado ao presente. É como se você estivesse sobrecarregado, tentando apagar incêndios o tempo todo.
Há uma irritabilidade constante, sensação de que não há tempo suficiente, dores físicas (como tensão muscular e dores de cabeça). – A ansiedade, por outro lado, te joga no futuro. É o medo de que algo dê errado, mesmo sem evidência concreta. A mente não para, há um excesso de preocupações, insônia, dificuldade de concentração e até sintomas físicos como falta de ar ou taquicardia. Saber diferenciar os dois é o primeiro passo para escolher como lidar.
E quais os impactos no nosso dia a dia?
Estresse e ansiedade não ficam só no campo emocional — eles têm reflexos muito concretos na nossa performance e na nossa capacidade de realizar o que nos propusemos a fazer. Quando estamos estressados, nosso foco fica comprometido. A mente pula de uma preocupação para outra, o corpo vive em estado de alerta, e fica difícil manter a atenção por muito tempo em uma única tarefa.
A produtividade cai não porque não estamos fazendo nada, mas porque estamos tentando fazer tudo ao mesmo tempo — e isso nos esgota. Já a ansiedade rouba a clareza. Em vez de seguirmos o plano de ação que definimos com calma, começamos a duvidar das nossas decisões. A mente cria cenários negativos, nos coloca em modo defensivo, e o medo de errar nos faz paralisar ou procrastinar.
O pior de tudo isto é que a imaginação não tem limites e ela pode ir ao infinito com situações que não são reais e que paralisam nossas ações. Mesmo quem é organizado e planejado começa a sentir que nada está funcionando. O problema não está na falta de metas, mas na dificuldade de acessar o estado mental necessário para executá-las. É como tentar correr com os freios puxados.
E sabe o que é mais perigoso? Muitas vezes, nesse cenário, a gente acha que precisa se esforçar mais — quando na verdade, o que precisamos é respirar, reequilibrar e retomar o controle interno. Por isso, eu chamo a atenção para um ponto: cuidado para não entrar em um estado de workaholic onde lazer e qualidade de vida ficam em segundo plano!
Como o coaching pode ajudar nesse processo?
O coaching pode organizar não apenas a sua rotina, mas principalmente o seu mundo interno. Porque o que trava as pessoas não é a falta de capacidade, mas sim o excesso de pressão, medo de falhar e a sensação de que precisam dar conta de tudo sozinhas. O coaching é um processo que te convida a olhar para o que está por trás do comportamento.
A mapear seus padrões, suas crenças, seus sabotadores internos. E, mais do que isso: ele te convida à ação consciente. Não aquela ação no automático, reativa, feita no impulso.
Mas uma ação com intenção, comclareza e com direção. Com o apoio certo, é possível começar a:
- Identificar os gatilhos que deixam você em alerta o tempo todo
- Traçar planos de ação realistas (e não impossíveis de cumprir)
- Aprender a dizer ‘não’ sem culpa
- Criar rotinas de autocuidado
- E principalmente: resgatar o protagonismo da vida
Dicas práticas para começar a lidar com o estresse e a ansiedade
Se você se identificou com tudo isso, aqui vão algumas atitudes simples que podem trazer grandes mudanças:
1. Crie pausas reais no seu dia
Cinco minutos respirando profundamente entre uma reunião e outra podem ser mais poderosos do que você imagina.
2. Experimente a técnica da respiração em quatro tempos
Ela é simples, rápida e super eficaz para te trazer para o momento presente. Funciona assim: inspire contando até 4, segure o ar por 4, expire por 4 e segure sem ar por mais 4 segundos. Repita por 3 a 5 ciclos. Essa técnica é ótima para usar antes de uma reunião difícil, uma conversa delicada ou qualquer momento em que você sinta a ansiedade chegando.
3. Escreva
Quando a mente estiver acelerada, coloque tudo no papel. Pensamentos escritos perdem um pouco da força que têm quando só ficam girando dentro da cabeça.
4. Estabeleça limites
Você não precisa responder mensagens de trabalho às 22h. E tudo bem dizer que vai resolver algo no dia seguinte.
5. Faça uma coisa de cada vez
Multitarefas criam a falsa sensação de produtividade, mas te deixam esgotado no final do dia. Aliás, tem um exercício simples da neurociência que comprova a perda de produtividade com a multitarefa: pegue uma folha de papel e comece a fazer pequenos riscos verticais um ao lado do outro – faça este exercício por um minuto. Em um segundo momento faça um risco em cima e outro embaixo por mais um minuto. Ao final conte quantos riscos fez no primeiro exercício e quantos fez no segundo onde seu foco ficou dividido. Analise o resultado.
6. Busque apoio
Você não precisa dar conta de tudo sozinho(a). O coaching, a terapia ou até uma boa conversa com alguém de confiança já podem ser um ótimo começo.
7. Mindfulness
Certa vez fiz um curso de mindfulness na empresa em que eu trabalhava. Fiz dinâmicas que me ensinaram a ter atenção plena no presente e deixar de focar no futuro. Algumas destas dinâmicas:
- Mudar meu trajeto diário fazendo caminhos diferentes, o que me forçava a sair do piloto automático.
- Almoçar em silêncio pensando no que estou saboreando, mastigando devagar e percebendo como aquele alimento teve a colaboração de tantas pessoas até chegar no meu prato.
- Lavar louça prestando atenção em cada ação que estava fazendo
- Deitada no chão, de olhos fechados, prestar atenção em cada parte do meu corpo desde o pé até a cabeça
Estas são algumas técnicas que me ajudaram na época a não deixar entrar automaticamente nos estados de estresse e ansiedade com a pressão na empresa.
Conclusão: equilibrar é mais sustentável do que aguentar
Você não precisa esperar um colapso para perceber que algo precisa mudar. Hoje, quando olho para trás, vejo que aquela versão minha que saiu do cinema para atender o cliente estava pedindo socorro. E eu atendi — não no telefone, mas em mim mesma. A vida continua corrida, os desafios continuam grandes.
Mas hoje eu tenho ferramentas para lidar com tudo isso de forma mais saudável. Eu tenho consciência. Tenho escolha. E é isso que desejo pra você também: que possa viver com mais leveza, mais presença, mais verdade. Não para ser perfeito, mas para ser inteiro. Porque cuidar da sua saúde emocional é o melhor investimento que você pode fazer por você — e por tudo que você ama.
