[tie_index]A história[/tie_index]
A história
Assim como você tem a sua história de vida, a Síndrome de Burnout também tem, e para não ser muito extensa, reuni algumas particularidades importantes sobre ela:
- Para quem não sabe, recentemente o CID-11 (Classificação Internacional de Doenças) realizou um detalhamento sobre a Síndrome e a partir das informações cedidas (que surgirão ao longo do texto), a OMS (Organização Mundial de Saúde) está em fase de desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências sobre o bem-estar mental no local de trabalho.
- A descoberta do Burnout aconteceu na década de 70, com todo o estresse que envolvia tanto o pessoal como o profissional dos indivíduos. A década de 70, nos Estados Unidos, é marcada por diversos acontecimentos conturbados como a guerra do Vietnã, as taxas crescentes de divórcio, um mercado que não respeitava a saúde física e mental dos funcionários, a crise econômica vinculada ao petróleo, mudanças rápidas que envolviam os bairros, as escolas, e certamente os ambientes de trabalho. O estresse para os trabalhadores da época foi tão grande que se tornou problemático: o entusiasmo esgotou.
- Os trabalhadores mais empenhados estavam agora desinteressados e desmotivados; mesmo rodeados de amigos e familiares, o trabalho deixou de ser recompensador e passou a ser considerado desgastante. O dia a dia no trabalho passa a não ter mais sentido, assim como a vida.
50 anos se passaram e se falarmos de um contexto mais generalizado, os presidentes podem ter mudado, as empresas são outras, os nomes das funções são diferentes mas a sensação para com o mundo dos que possuem a Síndrome é a mesma: crises financeiras, desemprego crescente, metas a serem batidas no trabalho, pressão familiar, desconfiança do governo, e mais uma vez: o entusiasmo esgotou.
[tie_index]De quem é a culpa?[/tie_index]
De quem é a culpa?
A tecnologia é idolatrada e odiada. A tecnologia uniu pessoas, aprimorou a qualidade de vida em todas as circunstâncias, enquanto por outro lado, os trabalhadores são pressionados diariamente pelas novidades e substituições das suas funções.
Vivemos em um sistema atual que, assim como antigamente, está em crise, e por este motivo o desespero busca por culpados: não seria a tecnologia uma refém dos avanços de ambição dos seres humanos ou será que ela merece prisão?
Um fato é claro: com a velocidade das tecnologias, informações e formas de se viver, os seres humanos não conseguem acompanhar. O mundo corporativo é sustentado por pessoas e ainda assim, muitos se submetem ao sistema, ou seja, às regras: se você não tem um celular próprio da empresa ou um notebook que está com você aonde você for, você é o estranho de mesa do bar.
A tecnologia avançou mas até quando o mundo corporativo permanecerá com as raízes de décadas passadas?
[tie_index]O medo da segunda-feira[/tie_index]
O medo da segunda-feira
Você deita na cama no sábado pensando que amanhã será domingo. O embrulho no estômago e a ansiedade começam a tomar conta de sua noite. O domingo bateu à sua porta, e na parte da tarde a ansiedade chega com os pés sujos: “eu costumava ser capaz de lidar com tudo que era pedido no trabalho enquanto o meu foco era apenas ascender, mas agora algo está faltando”, “eu não me sinto mais ligado aos projetos que estou desenvolvendo, mas também não posso sair do emprego, eu preciso desse trabalho”.
[tie_index]Afinal, o que é Burnout?[/tie_index]
Afinal, o que é Burnout?
É um fenômeno ocupacional relacionado ao trabalho de estresse crônico que envolve a exaustão emocional, despersonalização e redução de atividades vinculadas ao trabalho. Se você já passou ou passa por isso, você sabe o peso disso na pele, tanto no seu trabalho como na sua casa.
Se traduzida para o português ela passa a ser chamada de esgotamento, ou seja, a frustração e a desilusão estão de mãos dadas, com forças, nos seus pensamentos, no seu corpo.
Para quem acredita que Burnout esteja vinculada apenas às empresas corporativas está infinitamente enganado. Profissionais da área da saúde e profissionais de ONGs, por exemplo, correm risco de esgotamento: eles trabalham com seu coração e alma, eles possuem expectativas de melhorar a qualidade de vida e o mundo.
No início, eles podem desfrutar de seu trabalho e se orgulhar de estarem tão envolvidos em algo que possa fazer a diferença, mas quando as recompensas e resultados são limitados, quando as lutas de poder ou outras dinâmicas de grupo disfuncionais surgem, eles se sentem desamparados.
[tie_index]Quais são as mentiras sobre Burnout?[/tie_index]
Quais são as mentiras sobre Burnout?
#1 – Os “esgotados” são pessoas fracas que não sabem lidar com estresse
Quando você é uma pessoa engajada em sua área e se depara com os sintomas que se aproximam de modo devagar, você pode não entender muito bem o que está acontecendo e se coloca como uma pessoa fraca.
Você sente que todos ao seu redor estão trabalhando (supostamente) bem, e que se você dar voz ao que está sentindo, poderá ser mal visto. A sensação é que os outros conseguem lidar com o estresse e você é a exceção.
#2 – Requer uma mudança extraordinária na vida e no ambiente de trabalho
Existem muitas pessoas que realmente gostam do seu trabalho enquanto outros não podem se dar ao luxo de sair do trabalho (por vários motivos). Embora estejam sob estresse e se sintam esgotados, existem os que amam a empresa em que trabalham, as pessoas com quem convive, etc.
O que precisa ser colocado mais em prática são os ajustes para incorporar mais limites em torno de seu tempo e energia e desenvolver sua capacidade de resistência ao estresse.
Revisitar seus valores, pontos fortes e sentir o que te envolve para realizar as tarefas que você executa fazem parte da reflexão:
- Como você se relaciona com sua família?
- O que você pensa sobre o seu trabalho como um todo?
#3) – Eu tenho vergonha de falar sobre meus sintomas
Quer você queira ou não, se estiver se sentindo “esgotado”, é provável que outras pessoas já tenham percebido isso. Caso você se feche, é possível que comece a somatizar esse estresse no corpo: você pode adoecer com mais frequência, por exemplo.
Conversar com o seu supervisor é um dos passos, assumindo que você confia nele(a). Você precisa se preparar para essa conversa. Se você não puder falar com seu chefe, converse com um amigo, um técnico, seu parceiro ou com seu profissional de saúde. Não fique em silêncio.
#4) – “Nada que um período de férias não resolva”
Após a conversa com seu chefe, existe a possibilidade de você sair da sala com uma oferta de férias. É provável que ambos cheguem à conclusão de que as férias podem realmente ser a saída. Para um líder de equipe é importante atentar-se ao tipo de funcionário de que se está falando, e atentar-se sobre a diferença de um estresse diário e de um esgotamento.
Pesquisas mostram que as férias não “curam” o Burnout. Nessa pesquisa, você perceberá que os níveis de burnout podem diminuir ao longo das férias, mas com cerca de 2 semanas eles retornam.
#5) – Depressão e Burnout caminham juntos?
Sim, elas podem estar relacionadas de alguma forma (ainda está em fase de pesquisas sobre essa ligação/profundidade). A crença predominante é que cerca de 20% dos casos de burnout podem ser explicados pela depressão e vice-versa.
Mas isso significa que 80% do tempo, outros fatores estão em jogo. A Síndrome de Burnout abre portas para outras questões: ataque de pânico, doenças físicas, etc.
Antes de prosseguir, vamos analisar um pouco sobre como talvez você esteja se sentindo? Reflita um pouco sobre o seu passado, recorra aos seus ideais e o que foi sendo preciso mudar para se adequar em sua carreira ao longo do percurso.
Convenhamos, vivemos em um sistema que está em colapso, todos estão gritando por ajuda e esse eco virou uma bola de desespero. Você lutou e luta diariamente para alcançar seus objetivos de vida e não consegue entender exatamente o que está acontecendo com seus pensamentos de agora.
[tie_index]Como é uma pessoa com Síndrome de Burnout no dia a dia?[/tie_index]
Como é uma pessoa com Síndrome de Burnout no dia a dia?
- Antes, era uma pessoa apaixonada pelo que fazia, trabalhava para solucionar os problemas e sempre buscava alternativas para facilitar o processo de trabalho de todos.
Muitos buscam manter o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Existem aqueles que além da faculdade, fazem cursos à noite depois do trabalho, além das especializações, a fim de se destacarem e aprimorarem os conhecimentos pertinentes à especialização desejada.
São pessoas que são tão focadas que chegam ao ponto de esquecerem de si mesmas. Como resultado, podem não se alimentar direito, não fazer exercícios, deixam de executar seus hobbies, etc. Ver os amigos e/ou familiares torna-se raridade.
Se você possui foco para o trabalho é provável que tenha habilidades para planejamentos de modo geral: olhe para a sua agenda e programe-se com mais frequência para investir em tempo para a sua saúde. Elabore um caminho que o mantenha focado e não haja espaço para retrocesso.
Programe-se para vivenciar mais momentos com os amigos. Se ainda for difícil para você, já que sempre dependerá também da disponibilidade do outro, junte-se aos amigos “workaholics” do trabalho e façam atividades semanais juntos (ei, fora do trabalho, tudo bem?). Um pode ajudar ao outro. Quanto mais planejamento e empenho houver, maior será a oportunidade em compreender as coisas que são importantes para você.
- A inevitável comparação com o empenho dos outros
Conforme você ganha mais espaço na carreira, a comparação com o trabalho do outro é inevitável. Quando os funcionários de alto desempenho estão reunidos e todos são solicitados a realizarem tarefas semelhantes, agora apenas uma pessoa pode ter o melhor desempenho: quem mais rápido, quem apresentará melhor, quem proporcionará melhores análises?
Como balancear o senso da sua autoestima e respeito quando o ambiente é propício a disputas? Quando todos trabalham mais, ninguém avança mais. Muito em breve, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal já se foi há muito e todos ainda se sentem como perdedores.
- Você é o excluído, você não se enquadra no mercado
Em empresas grandes, todos esperam que você seja uma estrela. Naturalmente, todo ser humano é diferente e possuem diferentes pontos fortes e fracos. Então, poucos são os que se encaixam na definição do que significa ser uma estrela nos olhos de outras pessoas, compreende?
O que esperar de uma pessoa comprometida com a sua carreira que não se sente boa o suficiente ainda? Ela vai estudar mais, trabalhar mais até se tornar aquilo que ela acredita ser para assim ter. Concomitantemente, desenvolve problemas com sono, saúde ou até mesmo depressão ou ansiedade.
Construir a mentalidade de crescimento, sabendo que as pessoas não nascem estrelas mas se tornam estrelas é um novo olhar, só tenha cuidado para não cair na mesma questão de trabalhar mais ainda: pratique a auto-aceitação. Talvez você seja um polígono (e não uma estrela) e “tudo bem”.
- Ser workhacolic virou sinônimo de estilo de vida
Vivemos na era da tecnologia. Inúmeras Startups nascem a todo o momento com ideias incríveis para melhorar, facilitar e ampliar as oportunidades e qualidades para se viver. Quem nunca ouviu de um fundador de startup que para conseguir o espaço conquistado precisou renunciar a noites de sono, comida de qualidade e socialização com os entes para construir suas empresas?
Enxaquecas, insônia, dormência nas mãos e nas costas. Redução de valorização e priorização das pessoas em sua vida, e em paralelo a tudo isso o trabalho começa a parar de dar um senso de propósito.
Você se sente sem propósito. Como se estabelece limites nestes momentos? Está em suas mãos a decisão: qual é um número aceitável de horas para você trabalhar? Que experiências de vida você se arrependeria de perder? Quais são os seus fatores de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal? Depois de estabelecer o que é aceitável para você, seja assertivo ao defender suas próprias necessidades porque ninguém mais o fará.
[tie_index]O que acontece quando você está com a Síndrome de Burnout? [/tie_index]
O que acontece quando você está com a Síndrome de Burnout?
Pouco a pouco, a qualidade do seu trabalho começa a diminuir. Os relatórios não fazem tanto sentido nos momentos das reuniões e as simples perguntas proporcionam respostas sem sentido da sua parte. Você se pergunta: “O que está acontecendo comigo?” e complementa: “Se eu não posso trabalhar direito, para onde eu vou?”
Eu não sei o que ou quem você tem em sua vida, mas de qualquer modo, certamente tem uma família ou algumas pessoas que te amam, que fariam tudo por você, mesmo que fosse apenas uma pessoa, mas que participa da sua vida como pode. Sua carreira está no ápice mas possivelmente muita coisa foi deixada de lado ou foi ignorada por anos, inclusive você mesmo.
Para você ter uma maior compreensão, Burnout se desenvolve de maneira lenta e aos poucos sua saúde, relacionamentos e bem-estar começam a falhar, mas você pode não sabe o porquê. Em algum momento, seu corpo e mente já não conseguem elaborar a possibilidade de trabalhar para protegê-lo do que você está fazendo a si mesmo.
Burnout é coisa séria. E o equilíbrio é como você lida com tudo isso.
De acordo com o CID-11, seguem as informações sobre a Síndrome de Burnout:
“Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. É caracterizada por três dimensões:
- Sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia;
- Aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho; e
- Redução da eficácia profissional.
O ser humano é muito mais que um diagnóstico, uma palavra; e com base no meu posicionamento profissional, amplio estas especificações a partir do olhar do psicólogo Dr. Freudenberger que em seu livro fala sobre sua experiência com o assunto. Segue uma síntese sobre pontos interessantes destacados por ele sobre a Síndrome:
- Exaustão: um dos primeiros sinais no indivíduo.
- Desapego: quando as pessoas estão esgotadas significa que estão decepcionadas, seja com outras pessoas, com a maneira como a vida está, com as obrigações, e etc; e a defesa é acreditar que não se importa : “eu não me importo, nada me atinge”.
- Tédio e cinismo: o que te motivava, agora desgasta e você questiona o seu valor. A apatia ganha espaço.
- Impaciência e irritabilidade: à níveis que transbordam e impactam as pessoas que estão próximas a você.
- Onipotência: só você tem a capacidade de resolver a demanda do serviço porque somente você entende o processo, “mais ninguém”.
- Sensação de não ser apreciado: acredita que ninguém aprecia o seu trabalho, ficando mais amargo e irritado.
- Paranoia: a desconfiança de que os outros estão maltratando você e/ou estão se aproveitando do seu trabalho, entre outros.
- Desorientação: não há possibilidades de crescimento.
- Queixas psicossomáticas: dores de cabeça, resfriados, dores nas costas, entre outros.
- Negação de sentimentos: para Dr. Freudenberger , as pessoas sujeitas ao burnout deixam de se cuidar, e reforçam a ideia de que o foco são as atividades do trabalho.
Ainda eu seu livro, ele sugere alguns posicionamentos a serem observados:
- Auto-conhecimento: para ele, você precisa se perguntar quem está no comando da sua própria vida. Quando se promove esse tipo de reflexão, a possibilidade de um entendimento sobre os motivos que deixaram você distante de si podem ficar mais claros.
- Bondade: Para o Dr., revisitar as imagens da infância podem proporcionar entendimentos sobre quem você era e quem você se tornou. Olhe para aquela criança, lembre-se de que ela não foi embora. Ela está aí, no seu coração. Em algum lugar, dentro de você, ela pode emergir e ser bondosa, aceitando quem você é e explorar as oportunidades da vida.
- Mudanças: quando a sua vida está cheia de certezas e seguranças, você está protegido. Ele recomenda que se você parou de tentar novas coisas na sua vida, faça um esforço de se aventurar e vá em frente. Corra, patine, nade, jogue tênis, mas faça algo!
Para finalizar, recomendo algumas reflexões:
- Burnout não é algo para ser ignorado. Olhe para a sua vida de maneira honesta, reavalie seus objetivos em termos de valores internos e atualize-os caso necessário.
- Uma escolha que você fez cedo na vida pode não ser a melhor escolha para você agora.
- Olhe para as suas relações e pense sobre o que você tem tirado e colocado nelas.
- Se o seu trabalho está consumindo você fica a pergunta: você tem uma vida a parte do seu trabalho ou a sua vida é o seu trabalho?
- Há algo que você sempre quis fazer mas nunca teve tempo? O que é?
- Manter-se conectado ao que lhe dá significado e alegria podem ser fatores importantes. Há quanto tempo você não dá uma risada gostosa com os amigos? Qual foi a última vez que você preparou um jantar para seus amigos/família?
- A transformação precisa ser feita de dentro para forma, e lembre-se: burnout não deve ser um emblema de honra para mostrar o quão comprometidos estamos. Não há problema em ter uma vida além do trabalho e do ativismo, sem culpa ou vergonha.
Referencias Bibliográficas:
Freudenberger, Herbert; Richelson Géraldine (1980). Burn Out: The High Cost of High Achievement. What it is and how to survive it. [S.l.]: Bantam Books
CID-11 https://icd.who.int/en/