Doença ocupacional: o que é, tipos e como prevenir

doenca ocupacional medica paciente

Você sabia que 19% de todas as doenças que matam no mundo são decorrentes de acidentes ou de uma doença ocupacional?

De acordo com levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), somente em 2016, elas foram responsáveis pela morte de 1,9 milhão de trabalhadores.

Outro dado mais aterrorizante ainda é a morte de 750 mil pessoas por doenças cardíacas e AVC, decorrentes de longas horas de trabalho.

Os números, divulgados pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPA) em setembro de 2021, servem de alerta para as empresas investirem um pouco mais na proteção e na saúde do trabalhador.

Neste artigo o gestor vai conhecer um pouco mais sobre o que é a doença ocupacional e quais ferramentas adotar para minimizar riscos no ambiente laboral. Boa leitura!

O que é doença ocupacional?

doenca ocupacional mulher deitada

São classificadas como doença ocupacional qualquer tipo de complicação de saúde que o colaborador apresente em decorrência da sua atividade profissional e das condições do local de trabalho.

Problemas que afastam do trabalho mais de 260 mil trabalhadores todos os anos, de acordo com dados do Ministério do Trabalho e Previdência Social. Os empresários precisam elaborar um plano de ação para prevenir os riscos em suas organizações.

Para isso, é preciso conhecer muito bem os ambientes laborais e investir em programas de segurança e saúde do trabalhador para evitar doença ocupacional.

Uma doença ocupacional pode ser consequência de inúmeros fatores, que incluem movimentos repetitivos, exposição a produtos perigosos, ruídos excessivos, sobrecarga de trabalho e muitos outros.

O que caracteriza uma doença ocupacional?

As doenças ocupacionais também são conhecidas como idiopatias, ergopatias, tecnopatias ou doenças profissionais típicas.

Sua principal característica é ser ocasionada pelo exercício da profissão e estão descritas no artigo 20 da lei de número 8.213 de 1991 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

De ação gradual, esses problemas afetam a saúde do trabalhador de forma silenciosa e lenta, desencadeando diversas enfermidades como problemas auditivos, inflamatórios ou psicomotores.

Por exemplo, trabalhadores que estão em contato direto com níquel, amianto ou materiais radioativos podem desenvolver câncer, além de sérios problemas respiratórios.

Movimentos repetitivos, postura inadequada, assédio, estresse, trabalho excessivo, podem desencadear doenças ocupacionais.

Quais são os tipos de doenças ocupacionais?

doenca ocupacional fisioterapia coluna

Diversos são os tipos de doenças ocupacionais classificadas pelo Ministério do Trabalho. A situação é tão grave que o órgão exige que as empresas criem e implementem rigorosos programas que promovam a segurança e a saúde do trabalhador.

Um deles é o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), que, entre outros objetivos, trata da prevenção como principal meio de prevenir doenças ocupacionais. Vamos conferir os tipos mais comuns dessas enfermidades:

Por repetição

São todas as doenças causadas em consequência de atividades que exijam ações repetitivas, como por exemplo, digitar por longas horas.

Por ficar muito sentado, fatalmente esse trabalhador poderá desenvolver algum tipo de dorsalgia (dores nos músculos, ossos e nervos da coluna) ou inflamações como tendinite ou bursite.

Os principais sintomas de que algo não anda bem com o corpo são dores nas articulações e músculos e formigamento. Investimentos em ergonomia, adotar pausas regulares, bem como exercícios e alongamentos, podem ajudar na prevenção de doenças por esforço repetitivo.

Auditivas

Os transtornos auditivos atingem os profissionais que estão diretamente expostos a barulhos de máquinas e de ferramentas. O uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) podem reduzir sensivelmente esses ruídos.

Sua distribuição e uso correto estão amparados em lei, mas infelizmente no Brasil muitas empresas não oferecem esse benefício. Além disso, há casos em que o trabalhador se incomoda com o equipamento e se recusa a usá-lo.

Entre os principais sintomas estão dores de cabeça; irritabilidade; zumbido nos ouvidos; necessidade de ouvir um volume cada vez mais alto.

Para prevenir problemas auditivos algumas sugestões como criar meios para melhorar o isolamento acústico, diminuir as horas de exposição aos ruídos e o uso de EPIs são as mais indicadas.

Respiratórias

Doenças respiratórias acometem pessoas que estão expostas diariamente a ambientes onde os resíduos liberados por máquinas ou produtos prejudicam o sistema respiratório.

Esses ambientes podem resultar em diversos tipos de doenças respiratórias como a asma ocupacional ou a antracose pulmonar. Os principais sintomas de que algo não vai bem com a saúde são dificuldade para respirar, tosse, reações alérgicas, chiado no peito ou cansaço.

Usar exaustores, EPIs e até reduzir a emissão de gases e partículas prejudiciais são algumas alternativas para prevenir doenças respiratórias.

Psicossociais

Esse tipo de transtorno atinge o profissional que atua em ambientes altamente estressantes e desgastantes.

Falta de reconhecimento profissional, assédio, excesso de trabalho, são algumas situações que geram esse tipo de problema de saúde.

O resultado são traumas psicológicos e até doenças como ansiedade, depressão, síndrome de Burnout, ou esgotamento.

Os transtornos psicossociais podem apresentar sintomas como tristeza, preocupação excessiva, irritabilidade, taquicardia ou falta de motivação.

Investimentos em boas lideranças, comunicação interna, metas mais adequadas e realistas, programas de incentivo e de reconhecimento, são algumas iniciativas preventivas.

Quais são as doenças ocupacionais?

doenca ocupacional medico examinando paciente

São inúmeros os problemas de saúde causados por problemas de postura, ambiente inóspito, ou falta de EPIs.

São mais de 30 doenças, somente os problemas relacionados às lesões por esforços repetitivos ou distúrbios osteomoleculares relacionados ao trabalho (LER/DORT).

Além disso, a inalação de gases ou partículas nocivas à saúde podem ocasionar diversos tipos de cânceres, como o de traqueia, asma e asbestose.

Para prevenir é preciso conhecê-las muito bem. Abaixo listamos quais são as doenças ocupacionais mais comuns. Acompanhe!

Lesão por esforço repetitivo (LER)

Lesões por esforço repetitivo (LER) são ocasionadas geralmente por movimentos repetitivos ou postura inadequada e causam distúrbios osteomusculares como tendinites ou bursites. Podem ocorrer nos ombros, entre outras articulações.

Cuidar da ergonomia do mobiliário, praticar atividade física ou ginástica laboral podem ajudar na recuperação muscular dos membros, amenizar ou até mesmo prevenir novas lesões.

Surdez/PAIR

Muito mais comum do que se pensa, os transtornos auditivos podem ser agravados, levando a surdez permanente.

Normalmente as principais causas da perda auditiva induzida por ruído (Pair) estão na exposição a ruídos elevados (acima de 80 decibéis) e contínuos e até mesmo a produtos como tinner, tolueno, entre outros.

Prevenir é sempre a melhor indicação. Para isso, os trabalhadores precisam usar EPIs como os protetores auriculares, máscaras faciais ou abafadores. Um sistema de ventilação eficiente combate a exposição a produtos prejudiciais à saúde.

Trabalhadores de indústrias e de telemarketing estão mais sujeitos a terem algum tipo de problema de audição.

Antracose pulmonar

Esta é uma doença que atinge o pulmão. Profissionais de áreas têxteis e de carvoaria estão mais expostos a inalarem partículas nocivas à saúde. Tosse e dificuldade para respirar são os principais problemas dessa enfermidade.

O tabagismo agrava ainda mais o quadro. Novamente frisamos a importância do uso de EPIs, como máscaras respiratórias, como meios preventivos. Ao apresentar algum sintoma, o trabalhador deve ser afastado de suas funções para cuidar da saúde.

Asma ocupacional

Comum entre as doenças respiratórias ocupacionais a asma é causada pelo estreitamento e obstrução das vias aéreas. Isso devido à inalação de partículas de poeira, fumaças ou gases nocivos à saúde.

Geralmente os sintomas mais comuns são tosse, falta de ar, chiado e sensação de pressão no peito. Usar EPIs como respirador facial, é um dos métodos para prevenir a doença.

Psicossociais

Considerado um dos males do século 21, os transtornos mentais figuram entre as principais doenças ocupacionais e afetam a saúde dos profissionais. Gera estresse, depressão, ansiedade, enxaqueca e até dores musculares.

Trabalhar em ambientes conflitantes, sofrer assédio ou pressões exageradas são alguns dos fatores que podem abalar o psicológico do trabalhador.

A prevenção inclui desde planos de carreira, clima positivo, jornadas e metas de trabalho aceitáveis, entre outras iniciativas.

Outras doenças ocupacionais

Podemos listar entre outros tipos de doenças ocupacionais:

  • Problemas da visão: entre os mais comuns estão a conjuntivite, a catarata, a visão embaçada, dor de cabeça, dificuldade para enxergar ou ler.
  • Silicose: o acúmulo de sílica no pulmão impede gradativamente a respiração, podendo evoluir à morte.
  • Dorsalgias: são causadas geralmente por esforço repetitivo e uso excessivo de força ao levantar pesos. Causam problemas de coluna, como desvios e hernias de disco.
  • Dermatose ocupacional: afeta principalmente o trabalhador que mantém contato com graxas, óleos, entre outros produtos.
  • Câncer de pele: afeta trabalhadores que se expõem por longos períodos ao sol ou irradiação.
  • Varizes nos membros inferiores: profissionais que ficam muitas horas em pé, sentados ou com pouca movimentação podem ter a circulação sanguínea afetada.
  • Dermatose ocupacional: atinge principalmente o trabalhador exposto a agentes químicos, físicos e biológicos. Substâncias que podem causar desde dermatites de contato, infecções de pele e até câncer.

Qual a diferença entre doença do trabalho e doença ocupacional?

Basicamente a diferença entre os dois termos está no ambiente laboral e na atividade profissional exercida.

Ou seja, a doença ocupacional se refere a todas as enfermidades causadas pelo tipo de serviço que o trabalhador executa.

Por exemplo, um soldador que está exposto diretamente à luz excessiva da solda ou faíscas, corre o risco de ter problemas na visão. Já a doença de trabalho é aquela decorrente das condições do ambiente de trabalho.

Um auxiliar de escritório, mesmo dentro de salas mais tranquilas, pode compartilhar ambientes com ruídos altos como a fábrica. Com o passar do tempo poderá apresentar alguma deficiência auditiva.

Nos dois casos, um dos meios preventivos mais eficientes ainda é o uso de EPIs. A empresa tem a responsabilidade de promover ambientes mais seguros e saudáveis

Quais doenças NÃO são ocupacionais?

A lei 8.213 trata sobre as doenças ocupacionais, mas também relaciona algumas enfermidades que não estão relacionadas diretamente à elas.

São quatro as categorias desse grupo: as doenças degenerativas, as de grupo etário, as que não incapacitam para o trabalho e as endêmicas.

Vamos conhecer um pouco as principais características de cada um destes grupos:

  • Doença degenerativa: são todas as enfermidades que deterioram gradativamente um órgão, tecido ou célula. Como Alzheimer, Parkinson, esclerose lateral amiotrófica (ELA), câncer, diabetes, artrose e glaucoma;
  • Doença inerente a grupo etário: aqui se enquadram as doenças nos ossos, como osteoporose, a catarata, doenças reumáticas e o Alzheimer;
  • Doença endêmica: qualquer tipo de enfermidade infecciosa como gripe, malária, tuberculose e H1N1;
  • Doença que não produz incapacidade laborativa. Como o próprio termo já diz, são todos os problemas de saúde que não afetam a capacidade de trabalho.

Doença ocupacional: quais os direitos do trabalhador?

doenca ocupacional homem

Todos os trabalhadores que, de alguma forma, tiveram a saúde afetada no local de trabalho têm seus direitos assegurados em lei.

As doenças ocupacionais também se enquadram como acidentes de trabalho, por isso a empresa precisa preencher o formulário de Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT).

O documento é fundamental para que o trabalhador consiga provar que seu problema de saúde teve origem no trabalho.

Conhecer bem a legislação ou procurar ajuda de um profissional especializado são importantes na hora de assegurar os benefícios, em especial os previdenciários.

Abaixo vamos entender melhor cada um destes direitos:

Despesas médicas

Comprovado que a doença surgiu em decorrência da função ou local de trabalho, todas as despesas médicas devem ser pagas pela empresa.

Auxílio-doença acidentário

No caso de funcionário afastado, a empresa tem o dever de pagar pelos 15 primeiros dias. Após esse período o trabalhador tem direito ao auxílio-doença pago pelo INSS.

Benefício que somente será suspenso, após perícia médica, realizada pelo órgão, que constate suas plenas condições para retornar ao trabalho.

Outra modalidade paga pelo INSS é o auxílio-acidente, pago ao trabalhador que ficou com algum tipo de sequela. Ele recuperou a capacidade de trabalho, mas de forma reduzida, como no caso de surdez, perda de algum membro ou da visão. Neste caso ele pode ser reintegrado ao trabalho, em outra função, mas continua recebendo 50% do salário, pago pelo órgão.

Estabilidade provisória

O trabalhador doente ou acidentado no trabalho tem estabilidade de no mínimo 12 meses, mantendo seu contrato de trabalho, após o fim do auxílio-doença e de se recuperar. Ou seja, nesse período ele não poderá ser dispensado, com ou sem justa causa.

Danos morais

É um tipo de indenização a que o trabalhador tem direito, caso tenha sofrido algum dano psicológico, em decorrência de doença ocupacional.

Dano estético

Deve ser pago quando o funcionário ficou com alguma marca, cicatriz, entre outras deformidades, decorrentes da doença ocupacional ou acidente.

Pensão

O trabalhador passa a receber pensão mensal e vitalícia se a doença ocupacional o deixou incapaz para o trabalho, seja de forma reduzida ou totalmente incapacitante.

Como prevenir doenças ocupacionais?

A prevenção de doenças ocupacionais vai muito além do simples ato de fornecer EPIs. É preciso instituir uma cultura organizacional que priorize e valorize o bem-estar e a qualidade de vida de todos os trabalhadores.

Desta forma a organização reduz as ocorrências de acidentes e de doenças ocupacionais. Vamos conferir algumas sugestões:

  • Forneça EPIs, mas oriente, treine e fiscalize o trabalhador para a importância do uso destes equipamentos;
  • Explique de forma clara e simples sobre os riscos que o funcionário está exposto, bem como as consequências de possíveis negligências;
  • Padronize os processos produtivos para que se tornem mais seguros;
  • Promova a capacitação contínua dos colaboradores;
  • Realize exames médicos periódicos. Uma boa alternativa é optar pela telemedicina;
  • Incentive hábitos saudáveis dentro e fora da empresa, como alimentação equilibrada e exercícios regulares, como ginástica laboral;
  • Crie um canal de comunicação acessível com o setor de recursos humanos.

Conclusão

doenca ocupacional ultrassom

Entendemos que os números de doenças ocupacionais são alarmantes no Brasil. Apesar de uma efetiva legislação e profissionais habilitados em segurança e saúde do trabalho, muitas empresas simplesmente ignoram o problema.

E o resultado não é muito animador, se voltando geralmente contra elas mesmas. Afinal, um trabalhador doente, afastado ou não, tem sua capacidade produtiva física e mentalmente afetadas.

As doenças ocupacionais muitas vezes são decorrentes do exercício da profissão, mas também podem aparecer devido a ambientes de trabalho insalubres.

Dependendo da gravidade da enfermidade, ele poderá se afastar por longos períodos ou até chegar a óbito.

A saúde e a integridade física do trabalhador devem ser priorizadas em todas as empresas. São elas as responsáveis em implementar medidas e programas que promovam um ambiente laboral salutar, bem-estar e qualidade de vida.

Além de levantar os riscos, ofertar EPIs, as organizações devem ir além, mudando a cultura organizacional. Devem incentivar hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e exercícios físicos periódicos. E quando falamos da saúde do trabalhador, oferecer planos médicos é uma ótima opção.

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