A dismorfia corporal é um transtorno causado pela preocupação excessiva com uma ou mais características da aparência, prejudicando sua rotina e causando impactos à saúde mental. De acordo com uma pesquisa de 2023 da Opinion Box, cerca de 43% dos brasileiros têm a autoestima em relação à aparência baixa e muito baixa.
A baixa autoestima é um grande fator de risco para o surgimento do transtormo dismórfico corporal. A mesma pesquisa mostrou que 47% das pessoas consideram que a aparência física está relacionada ou muito relacionada a sua felicidade. O Brasil, inclusive, está entre os 10 países com a população mais insatisfeita com o corpo.
O transtorno acomete cerca de 2 a 3% da população mundial, de acordo com dados do Manual MSD.
Ficar atento aos sintomas é o primeiro passo para reconhecer o problema. Continue a leitura e descubra como diagnosticar, quais os perigos e quais são as formas de tratamento para a dismorfia corporal!

Quais os sintomas de dismorfia corporal?
O cuidado com a aparência física é uma preocupação de grande parte da população. Afinal, querer estar bonito e em sua melhor versão é um desejo comum de todos.
Principalmente na era digital, onde apenas o melhor lado de todos é mostrado, querer estar com a aparência em dia e nos padrões ideais de beleza é um sentimento compartilhado socialmente.
Se sentir incomodado com algumas partes do próprio corpo é perfeitamente normal e acontece com todos. No entanto, quando essa preocupação começa a gerar preocupação excessiva, obsessões com a mudança e te priva de viver situações importantes, é preciso procurar ajuda profissional para investigar um possível transtorno dismórfico corporal.
Veja a seguir os principais sinais de alerta para a dismorfia:
Obsessão com a aparência
A principal característica das pessoas com dismorfia corporal é a obsessão com a aparência. Elas se preocupam excessivamente com suas imperfeições – que muitas vezes nem existem ou são mínimas.
Dão grande valor para qualquer detalhe no corpo que não seja aquele idealizado por ela ou pelo padrão de beleza vigente.
Comportamentos repetitivos
Verificar o espelho algumas vezes na tentativa de identificar um possível defeito ou detalhe que possa melhorar é normal. Principalmente em ocasiões especiais, como ir a um encontro romântico, por exemplo.
Mesmo que seja um cenário comum para todos, pessoas com dismorfia repetem essa atitude dezenas de vezes ao dia. Todos os dias.
A verificação constante no espelho ou na câmera do celular sob o medo de estar “feio” é uma atitude comum nesse transtorno. Ou, até mesmo, a checagem constante com outras pessoas, geralmente amigas, ao perguntar se a roupa está boa, se está ou não bonita.
Fonte: Freepik
Comparação com outras pessoas
Seja digital ou fisicamente, pessoas com dismorfia corporal se comparam o tempo todo. O outro sempre tem o rosto mais bonito, o nariz mais fino, o corpo mais padronizado… a sensação é de nunca estar à altura dos outros.
Busca excessiva por procedimentos estéticos
Justamente por se compararem a todo momento, a busca por “melhorar” a aparência por meio de cirurgias é comum em pacientes com esse transtorno.
A pesquisa da Opinion Box já citada mostrou que 44% dos brasileiros têm vontade de fazer algum procedimento estético. 19% não têm certeza. Uma pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética mostrou que 13,1% de todas as cirurgias plásticas de 2019 foram no Brasil.
Apesar de isso não significar que todas as pessoas que fazem cirurgia tem dismorfia corporal, é um sinal de como a população brasileira está exposta aos riscos de desenvolver o transtorno.
Evasão de situações sociais
O transtorno dismórfico corporal gera uma autoestima tão baixa relacionada à aparência, que as pessoas acabam evitando situações sociais. Desmarcam saídas com os amigos, encontros, idas à praia ou eventos mais formais… evitam ao máximo encontrar pessoas por se sentirem inferiores e inseguras com seu próprio corpo.

É comum que pessoas com dismorfia corporal também desenvolvam outros transtornos mentais, como transtorno depressivo maior, transtornos de ansiedade (incluindo fobia social), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtornos alimentares e transtornos de uso de substâncias.
Teste de autoavaliação para dismorfia corporal
Para entender se você precisa investigar a provável existência do transtorno na sua vida, é possível usar o Questionário de Transtorno Dismórfico Corporal (BDDQ), disponível em inglês com tradução para português e oferecido pela BDD Foundation.
Esse teste deve ser utilizado apenas como avaliação de suspeita e o diagnóstico final deve ser feito por um psiquiatra ou psicólogo. Apenas um teste não é capaz de traduzir as particularidades únicas do sujeito. Por isso, não entenda o resultado como algo definitivo e sim como um direcionamento.
O que causa a dismorfia corporal?
De forma geral, a dismorfia corporal pode surgir por diversos fatores. Como grande parte dos transtornos, ele tende a se desenvolver conforme o passar dos anos. E, é claro, a ganhar cada vez mais força – em caso de não tratamento.
Não se sabe ao certo quais fatores levam ao surgimento do transtorno, mas fatores ambientais são os que mais influenciam, considerando a exposição constante do mundo moderno a pessoas com “corpos perfeitos” mostrados em redes sociais, séries etc.
A insegurança severa com relação à aparência também pode surgir de um contexto social. Principalmente se tratando do 3° país que mais usa redes sociais do mundo, a influência social é enorme quando se trata de beleza.
O ambiente no qual a pessoa cresce e convive a maioria de sua vida influencia diretamente no surgimento do problema. Em casa, escola ou trabalho, ser constantemente criticada com relação à aparência aumenta exponencialmente as chances de desenvolver o transtorno.
Quem usa redes sociais, sabe. Mais do que apenas uma ferramenta de comunicação, o ambiente digital se tornou uma vitrine. A vida perfeita, o corpo perfeito, o rosto perfeito.
Com tanta exposição milimetricamente calculada, é muito comum que o sentimento de insegurança surja da comparação com outras pessoas.
Muitas vezes, diga-se de passagem, pessoas que, na verdade, nem existem daquela forma. Mas sim, aproveitam para mostrar o seu melhor lado com aplicativos, efeitos e outras ferramentas que a tecnologia oferece atualmente.
A pressão social e insatisfação com o corpo podem gerar problemas que surgem em comorbidade com a dismorfia corporal. Como esse transtorno diz respeito a como a pessoa enxerga sua forma física, muitas vezes ele pode estar relacionado a transtornos alimentares, como a bulimia e anorexia.

Como é feito o diagnóstico da dismorfia corporal?
O diagnóstico da dismorfia corporal deve ser feito por um profissional especialista, geralmente um psiquiatra ou psicólogo. Na consulta, o profissional avalia o histórico clínico do paciente e realiza uma avaliação psicológica detalhada.
Nela, é possível identificar os sintomas, comportamentos repetitivos, o grau de preocupação e o impacto na vida do paciente.
Para o diagnóstico, o profissional utiliza critérios diagnósticos estabelecidos, como os do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Alguns critérios-chave incluem:
- Preocupação com um ou mais defeitos, ou falhas percebidas na aparência física que não são observáveis ou parecem leves para os outros.
- Realização de comportamentos repetitivos (por exemplo, verificar-se no espelho, arrumar-se excessivamente, beliscar a pele, buscar tranquilização) ou atos mentais (por exemplo, comparar sua aparência com a de outros) em resposta às preocupações com a aparência.
- A preocupação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Este é considerado um critério crucial, pois diferencia o TDC de preocupações normais com a aparência.
- A preocupação com a aparência não é mais bem explicada por preocupações com gordura ou peso corporal em um indivíduo cujos sintomas satisfazem os critérios diagnósticos para um transtorno alimentar (Critério D).
Muitas vezes, as pessoas com TDC tendem a esconder os seus sintomas por vergonha, o que pode dificultar o diagnóstico e fazer com que o transtorno permaneça não diagnosticado por anos.
Curiosamente, a identificação do TDC pode ocorrer inicialmente por profissionais não psiquiatras, como cirurgiões plásticos, devido à frequente busca por procedimentos estéticos por esses pacientes.
A consulta com um especialista é indispensável porque a dismorfia corporal pode ser confundida com outros transtornos, como os já citados alimentares. Mesmo que ambos se relacionem com a aparência física, de forma geral, eles são diferentes.
Se, por um lado, a dismorfia é caracterizada pela vaidade excessiva e preocupação que causa angústia e impacta no desempenho de suas atividades em decorrência da aparência física; por outro, os transtornos alimentares se relacionam exclusivamente com a forma e peso corporal do paciente, para gerar comportamentos alimentares anormais.
A dismorfia corporal tem cura?
Com o tratamento adequado, os sintomas da dismorfia corporal melhoram consideravelmente. Embora o transtorno não tenha uma “cura”, no conceito tradicional da palavra, o direcionamento profissional permite que o paciente leve uma vida normal e com uma melhor relação com o próprio corpo.
Caso não haja o tratamento correto, o transtorno tende a piorar, ser cada vez mais incapacitante e atrapalhar ainda mais a qualidade de vida do paciente.

Qual é o tratamento para dismorfia corporal?
As formas de tratamento para a dismorfia variam de acordo com a prescrição médica. No entanto, as duas mais comuns para o enfrentamento do problema são a psicoterapia e o tratamento medicamentoso.
Com a psicoterapia, o paciente consegue identificar e modificar pensamentos disfuncionais relacionados à aparência. Dessa forma, aprende técnicas para lidar com crenças e a ansiedade gerada pelo transtorno, o que gera a diminuição da obsessão com as características físicas.
Algumas psicoterapias, como
Por meio dela, o paciente consegue voltar a se enxergar como pessoa completa. Que tem uma personalidade, crenças, valores, defeitos e qualidades. E que não é movida essencialmente pela aparência. Resgatando a autoestima dos pacientes.
O tratamento medicamentoso, quando necessário, tem a função de melhorar a capacidade emocional do paciente. Dessa forma, a intervenção psicológica consegue atingir efeitos mais duradouros e de longo prazo, que auxiliarão o paciente para o resto da vida.

Como a dismorfia corporal afeta a vida das pessoas?
O transtorno dismórfico corporal é um problema que traz inúmeras dificuldades na vida das pessoas. Ele impacta diretamente no bem-estar dos pacientes. O problema com a aparência vai muito além da questão física.
Compulsão alimentar
A preocupação com o corpo, como falamos, pode estar relacionada a transtornos alimentares. Por isso, muitas vezes, mesmo que pareça contraditório, pessoas com dismorfia corporal podem apresentar compulsão alimentar.
Nesse caso, os pacientes depositam na comida suas frustrações e inseguranças. A alimentação ganha um caráter compensatório e de fonte de prazer e dopamina. O que, logo em seguida, geralmente, causa efeito rebote: o mal-estar pela quantidade de comida ingerida.
Saúde em geral
A dismorfia corporal afeta a saúde em geral dos pacientes. Portadores do problema, obcecados pela aparência, tendem a investir em exercícios físicos intensos e exagerados – que podem causar problemas na musculatura como um todo – e em dietas extremas e inadequadas.
Ao invés de manter uma alimentação saudável, os pacientes procuram receitas milagrosas que prometem emagrecimento fora do comum, antinaturais e desnecessárias.
Depressão
Por afetar diretamente a autoestima, é comum que pessoas com o transtorno desenvolvam algum nível de depressão. A preocupação constante com a aparência e insatisfação com o corpo pode gerar sentimentos de desesperança e tristeza profunda.
Comportamento suicida
Em casos gravíssimos, a dismorfia corporal pode levar a comportamentos suicidas. De acordo com o Manual MSD, aproximadamente 80% das pessoas com o transtorno apresentam ideação suicida em algum momento. E, infelizmente, entre 25% a 30% chegam a cometer tentativas de suicídio.
O acompanhamento com um profissional de saúde é imprescindível para a manutenção da qualidade de vida do paciente e a mudança de comportamento psicológico da pessoa.
Como procurar ajuda para dismorfia corporal?
Em um país onde uma a cada três mulheres se considera fora do padrão de beleza, a dismorfia corporal tende a ser cada vez mais frequente.
Para combater o problema e acabar com os sintomas do transtorno, é essencial o tratamento com um médico especialista. Para que você receba atendimento o mais rápido possível, o agendamento de uma consulta online é uma ótima opção.
Na Conexa, você agenda a sua consulta em poucos minutos e garante o atendimento de um psiquiatra ou psicólogo conforme a sua disponibilidade. A telemedicina oferece uma grande flexibilidade de horários e a possibilidade de realizar a consulta do conforto da sua casa. E, em casos como esse, onde o bem-estar geral é comprometido, a agilidade no atendimento é indispensável.

Créditos da imagem: CalypsoArt em iStock
Revisado por:
Karine Bonfim Pereira
Psicóloga graduada pela PUC-SP, pós-graduada em Psicanálise Clínica pela UniAmerica e em Atendimento Psicanalítico de Casal e Família pelo Instituto Sedes Sapientiae. Atua como Psicóloga Supervisora do time de Gestão em Saúde Mental na Conexa. CRP 06/149013.