A gravidez é um momento muito especial na vida da mulher. Sentimentos comuns numa gestação de percurso normal se intensificam em uma gestação considerada de alto risco. Uma série de emoções como medo, alegria e afeto ficam potencializadas e desencadeiam, por sua vez, sentimentos ainda mais intensos, como ansiedade, plenitude e amor.
Atualmente muitas pesquisas demonstram maior interesse na associação entre diabetes gestacional e a saúde mental da mulher. O diabetes gestacional é uma complicação comum da gravidez e está associado a um risco maior de distúrbios de saúde mental, incluindo depressão pré-natal, pós-natal e ansiedade.
Estima-se que o diabetes afeta mais de 16,8 milhões de adultos brasileiros e aproximadamente 14% das mulheres grávidas. Algumas dessas pessoas têm dificuldades em lidar com a doença e vivenciam oscilações de humor e constante preocupação sobre as possíveis complicações que a doença possa desencadear.
Estes efeitos podem conduzir igualmente ao nervosismo, confusão, ansiedade ou depressão. Estados psíquicos alterados são comuns na gestação e o número de diagnósticos vem aumentando progressivamente.
[tie_index]O que é o Diabetes Gestacional? [/tie_index]
O que é o Diabetes Gestacional?
Existem três tipos principais de Diabetes:
- Diabetes Tipo I,
- Diabetes Tipo II e
- Diabetes Gestacional.
Sabe-se que o diabetes ocorre quando o pâncreas não é capaz de produzir o hormônio chamado insulina em quantidade suficiente ou quando o organismo cria resistência a esse hormônio. Porém, se isso ocorrer a primeira vez durante a gestação, essa condição é chamada de Diabetes Gestacional e geralmente se desenvolve na segunda metade da gravidez.
Durante a gravidez, para permitir o desenvolvimento do bebê, a mulher passa por mudanças em seu equilíbrio hormonal. A placenta é uma fonte importante de hormônios que reduzem a ação da insulina, responsável pela captação e utilização da glicose pelo corpo. O pâncreas, por conseguinte, aumenta a produção de insulina para compensar este quadro.
Em algumas mulheres, no entanto, este processo não ocorre e elas desenvolvem um quadro de Diabetes Gestacional, que é uma forma transitória de intolerância à glicose, alterada pela resistência à insulina e disfunção das células β pancreáticas durante a gravidez e, consequentemente, provoca aumento do nível de glicose no sangue.
[tie_index]Fatores de risco associados ao Diabetes Gestacional e saúde mental [/tie_index]
Fatores de risco associados ao Diabetes Gestacional e saúde mental
Os fatores de risco incluem:
- História familiar de diabetes,
- Idade materna avançada,
- Tabagismo,
- Etnia,
- Síndrome do ovário policístico,
- Entre outros.
Em particular, as mulheres obesas são mais suscetíveis ao diabetes gestacional. Por ser um órgão que produz a insulina, o pâncreas terá que trabalhar muito mais e, por conseguinte, maior será a probabilidade de falhar, podendo causar o diabetes.
Ainda, o diabetes gestacional pode estar associado a um risco aumentado de distúrbios de saúde mental, incluindo depressão pré-natal e pós-natal, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.
Mulheres com diabetes gestacional são 2 a 4 vezes mais propensas a desenvolver depressão no período pré-natal ou pós-natal em comparação com aquelas sem diabetes gestacional.
[tie_index]Sintomas, diagnóstico e tratamento do diabetes gestacional [/tie_index]
Sintomas, diagnóstico e tratamento do diabetes gestacional
Se a futura mãe com diabetes gestacional conseguir manter sua glicemia dentro dos padrões de intervalo – 70~180 mg/dl – 70% ou mais do tempo ela não vai ter nenhum sinal do problema.
Somente em casos em que a doença está descompensada é que pode gerar mal-estar, cansaço, aumento da sede, da fome e micção (vontade de ir ao banheiro para fazer xixi) e visão turva.
Como no diabetes gestacional nem sempre os sintomas são identificáveis, é necessário realizar exames periódicos para detectar a condição a partir da 24ª semana (início do 6º mês).
O diagnóstico do diabetes gestacional é considerado positivo se a gestante tiver pelo menos 2 dos 3 resultados alterados:
- Glicemia Jejum: Normal até 92 mg/dl.
- Glicemia após 1 hora: Normal até 180 mg/dl.
- Glicemia após 2 horas: Normal até 153 mg/dl.
O tratamento consiste no monitoramento da glicose por meio de uma dieta saudável, com controle de gordura, carboidratos e calorias; e, atividade física regular. Se a mudança de hábitos de vida não resultar no controle da glicose, a gestante pode precisar usar medicamentos e ou terapia com insulina.
Ainda, no olhar da psicologia, o diagnóstico e o tratamento para mulheres com diabetes gestacional levam em consideração várias formas de sofrimento psicológico, como o sofrimento emocional específico do diabetes, definido como emoções negativas, alterações no humor, ou medo relacionado a experiências vividas e mecanismos de enfrentamento da doença.
Comumente a gravidez é associada a emoções elevadas, um diagnóstico adicional de diabetes gestacional pode aumentar a tensão psicológica, sendo que dinâmicas psicossociais, como as mídias sociais, podem impactar ainda mais a saúde mental e física dessas mulheres provocando ansiedade, dúvidas e inseguranças.
[tie_index]Suporte emocional para gestantes diabéticas [/tie_index]
Suporte emocional para gestantes diabéticas
Para que a gestante diabética junto à sua equipe de saúde alcance a meta do controle da glicemia durante e após a gravidez, é muito importante o acompanhamento psicológico, pois a sobrecarga emocional pode levar a complicações desnecessárias.
Os aspectos psicológicos em mulheres com diabetes gestacional exigem da mulher um grande reforço e trabalho de processamento emocional, porque a experiência materna se torna mais desafiadora pela vulnerabilidade emocional que a mãe se encontra naquele momento.
O suporte psicológico além de ajudar no bom controle glicêmico, ajuda na aceitação do diabetes porque a gestante com diabetes, muitas vezes, não está preparada para conviver com as mudanças de estilo de vida impostas por essa doença e pelo seu tratamento, além da intensificação dos sentimentos de medo e ansiedade vivenciada de forma muito singular dependendo da história de vida de cada uma.
A proposta da psicologia vai ao encontro da escuta dessa mulher para as questões relacionadas à gravidez, bem como o resgate de suas questões pessoais atuais e anteriores a esse período, de sua relação com seu companheiro, família e amigos, dos seus desejos e sua autoestima.
Por fim, ainda há muitos estudos e pesquisas sendo realizadas para melhor entender as relações e complexidade do Diabetes Gestacional e, pela minha experiência de mais de 38 anos vividos com diabetes e duas gestações tranquilas e filhos saudáveis, posso afirmar que é possível para nós mulheres diabéticas realizarmos o sonho de ser mãe e viver uma vida de qualidade e bem-estar.
Se você tem diabetes gestacional ou conhece uma mulher que tem, pode contar com meu apoio psicológico.
Sinta-se abraçada(o) com muito carinho.
Referências
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