O universo da saúde mental feminina é vasto e complexo, afetando muitas mulheres de maneiras diferentes ao longo de suas vidas. Fases como o período pré-menstrual e o periparto (incluindo a gestação e o pós-parto) são momentos delicados e que podem desencadear ou intensificar sintomas de saúde emocional. Quadros mais intensos podem levantar a suspeita para alguns transtornos psiquiátricos, como o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) e os transtornos emocionais durante o periparto. Neste artigo, abordaremos os aspectos mais importantes desses dois temas e como cuidar adequadamente da saúde mental das mulheres nesses períodos.
Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
O TDPM é uma forma grave da conhecida Síndrome Pré-Menstrual (SPM), ou “TPM”, que acomete muitas mulheres, apresentando sintomas que vão além dos desconfortos leves e passageiros da TPM. Enquanto a SPM inclui cólicas, cansaço e alterações leves de humor, o TDPM envolve sintomas muito mais intensos que podem interferir diretamente nas atividades diárias e nos relacionamentos.
Sintomas e diagnóstico do TDPM
O diagnóstico de TDPM requer a presença de pelo menos cinco dos seguintes sintomas por uma semana na fase que antecede a menstruação, e esses sintomas devem desaparecer com o início do fluxo menstrual:
- Mudanças bruscas de humor
- Irritabilidade ou raiva acentuadas, com aumento de conflitos interpessoais
- Humor deprimido ou desânimo
- Ansiedade e tensão intensas
- Diminuição do interesse pelas atividades habituais (trabalho, escola, lazer)
- Dificuldade de concentração
- Fadiga e falta de energia acentuadas
- Alterações no apetite (comer em excesso ou ter desejo por alimentos específicos)
- Insônia ou hipersonia (sono em excesso)
- Sensação de sobrecarga ou perda de controle
- Sintomas físicos, como inchaço das mamas, dor nas articulações e músculos, e inchaço generalizado
Para que o diagnóstico de TDPM seja confirmado, esses sintomas devem ocorrer em mais de dois ciclos menstruais consecutivos e causar impacto significativo na vida da mulher.
Causas e fatores de risco do TDPM
Embora a causa exata do TDPM não seja completamente compreendida, acredita-se que o transtorno esteja relacionado a uma resposta exacerbada do cérebro às variações hormonais, principalmente dos níveis de estrogênio e progesterona. Fatores genéticos também desempenham um papel importante, especialmente em mulheres com histórico de depressão ou outros transtornos psiquiátricos. Além disso, a história familiar de distúrbios de humor pode aumentar a predisposição para o TDPM.
Tratamento do TDPM
O tratamento do TDPM envolve uma abordagem combinada, tanto farmacológica quanto comportamental:
- Antidepressivos: Como a serotonina desempenha um papel crucial na regulação do humor, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) são frequentemente a primeira escolha para tratar o TDPM.
- Anticoncepcionais hormonais: Algumas mulheres podem se beneficiar da estabilização dos níveis hormonais com anticoncepcionais.
- Psicoterapia: A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem mostrado bons resultados no manejo dos sintomas.
- Terapias alternativas: Práticas como exercícios físicos, dieta equilibrada, yoga e meditação mindfulness ajudam a controlar o estresse e os sintomas físicos e emocionais do TDPM.
- Suplementos: O uso de cálcio e vitamina B6 pode ser eficaz para algumas pacientes.
Psicotrópicos no periparto
O periparto, período que inclui a gravidez e o pós-parto, é uma fase especialmente sensível para a saúde mental feminina. Durante esse período, o risco de transtornos psiquiátricos aumenta significativamente, com destaque para a depressão pós-parto e os transtornos de ansiedade perinatal. O tratamento adequado desses distúrbios é fundamental para o bem-estar tanto da mãe quanto do bebê.
Transtornos psiquiátricos no periparto
- Depressão pós-parto: Afeta de 10% a 15% das mulheres e, sem tratamento, pode prejudicar a interação mãe-bebê e comprometer o desenvolvimento emocional do bebê. A depressão pós-parto pode também interferir no autocuidado e na relação familiar.
- Transtorno bipolar: Mulheres com esse transtorno enfrentam um risco elevado de recaídas, especialmente no período pós-parto, podendo apresentar episódios maníacos ou depressivos.
- Ansiedade perinatal: O período da gravidez e do pós-parto pode intensificar o transtorno de ansiedade generalizada e o transtorno de pânico, devido às preocupações constantes e o alerta excessivo.
Uso de psicotrópicos no periparto
O uso de medicamentos psicotrópicos durante a gestação e a amamentação é um tema delicado, já que muitos medicamentos podem atravessar a barreira placentária ou ser excretados no leite materno. No entanto, é crucial balancear os riscos de não tratar a saúde mental da mãe. Em casos de transtornos psiquiátricos graves, o não tratamento pode acarretar em partos prematuros, afetar o desenvolvimento emocional do bebê e comprometer o vínculo mãe-bebê.
A escolha do medicamento depende do transtorno psiquiátrico, e o risco-benefício deve ser discutido com a paciente e sua família. Entre os medicamentos utilizados no periparto estão:
- Antidepressivos: Especialmente em casos de depressão pós-parto.
- Antipsicóticos e estabilizadores de humor: Indicados para transtornos mais graves, como o transtorno bipolar.
- Monitoramento constante: O acompanhamento rigoroso por um psiquiatra é essencial para garantir a segurança tanto da mãe quanto do bebê.
Considerações finais
A saúde mental feminina, especialmente em períodos como o ciclo menstrual e o periparto, deve ser uma prioridade na abordagem médica. Tanto o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM) quanto os transtornos psiquiátricos no periparto precisam ser mais discutidos e visibilizados, uma vez que afetam profundamente a qualidade de vida das mulheres e sua capacidade de cuidar de si mesmas e de suas famílias.
Para as mulheres que apresentam sintomas de TDPM ou que estão passando por dificuldades emocionais durante a gravidez e o pós-parto, é fundamental buscar a orientação de um psiquiatra. O tratamento adequado pode aliviar o sofrimento, restaurar o equilíbrio emocional e proporcionar uma vida mais saudável e plena.
Lembre-se: cuidar da saúde mental é um ato de amor-próprio e de cuidado com as próximas gerações. Se você ou alguém que conhece está enfrentando dificuldades emocionais nesses períodos, procure ajuda profissional e invista em seu bem-estar.
Texto por: Dra. Mariana Zacharias
CRM-SP 183272 / RQE 126197 (Médica Psiquiatra)
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Revisado por:
Thiago Lopes Genaro
CRM-SP 151800. RQE 110709. Formado em Direito pela USP; Medicina pela FAMERP; Psiquiatra pelo Instituto Bairral de Psiquiatria. Atual curador da especialidade de psiquiatria da Conexa Saúde.