Muitas pessoas recorrem à comida como uma forma de conforto, enquanto outras perdem o apetite devido à tensão constante. Essa relação complexa entre mente, corpo e alimentação mostra o quanto o bem-estar emocional influencia nossos hábitos alimentares.
Comer por impulso, consumir alimentos ultraprocessados e mais calóricos como forma de prazer imediato e sentir desconfortos gastrointestinais são apenas algumas das manifestações do impacto da ansiedade sobre a nutrição.
Estudos indicam que o estresse ativa o sistema nervoso simpático, desencadeando uma cascata de reações hormonais que podem afetar tanto o apetite quanto a digestão. Além disso, a liberação excessiva de cortisol – hormônio do estresse – pode levar ao desejo por alimentos calóricos e ricos em açúcar, como uma tentativa do organismo de obter energia rápida.
Diante desse cenário, a nutrição não pode ser tratada apenas como um conjunto de calorias e nutrientes. O equilíbrio emocional também desempenha um papel essencial na forma como nos alimentamos e no nosso processo de emagrecimento.
O que acontece com o corpo (e com a digestão) durante a ansiedade?
Um dos principais efeitos é a liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que aumentam a frequência cardíaca e redirecionam o fluxo sanguíneo para os músculos, preparando o corpo para reagir ao perigo. No entanto, essa mudança também prejudica outras funções, como a digestão.
Quando o corpo está em estado de alerta, ele reduz a produção de enzimas digestivas e a movimentação intestinal, o que pode causar desconfortos como inchaço, refluxo, azia e constipação.
Além disso, a ansiedade pode tanto aumentar quanto diminuir o apetite. Algumas pessoas sentem necessidade de comer em busca de prazer momentâneo e conforto emocional, enquanto outras perdem completamente a fome devido ao nervosismo.
Esse desequilíbrio pode levar a padrões alimentares desorganizados, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos alimentares e impactando negativamente a saúde metabólica.
É aqui que a respiração entra como uma ferramenta poderosa. Técnicas respiratórias ajudam a reduzir os efeitos do estresse no organismo. Com isso, é possível restaurar o equilíbrio do sistema digestivo, melhorar a percepção da fome e da saciedade e tornar a relação com a comida mais consciente.
Técnicas de respiração que ajudam a melhorar a relação com a comida e a ansiedade
A respiração é uma das formas mais simples e acessíveis de regular o corpo e a mente. Quando praticada corretamente, pode reduzir os efeitos da ansiedade, melhorar a digestão e favorecer uma relação mais equilibrada com a alimentação. Algumas técnicas eficazes para o controle da ansiedade:
Respiração diafragmática (ou abdominal)
A respiração diafragmática, também conhecida como respiração abdominal, consiste em inspirar profundamente pelo nariz, expandindo o abdômen, e expirar lentamente pela boca. Esse tipo de respiração ativa o sistema parassimpático, promovendo relaxamento e reduzindo a produção de cortisol.
Ao praticá-la antes das refeições, é possível preparar o organismo para uma digestão mais eficiente, evitando desconfortos gastrointestinais. Além disso, essa técnica ajuda a desacelerar o ritmo, reduzindo episódios de comer impulsivamente.
Respiração 4-7-8
A técnica 4-7-8 é simples e eficaz para momentos de estresse ou quando surge uma vontade súbita de comer sem fome real. O exercício consiste em inspirar pelo nariz por quatro segundos, segurar o ar por sete segundos e expirar lentamente pela boca por oito segundos.
Esse padrão respiratório ajuda a desacelerar os batimentos cardíacos e a acalmar a mente, sendo ideal para ser praticado antes de dormir ou sempre que houver necessidade de controle emocional.
Respiração alternada (Nadi Shodhana)
Essa técnica da ioga envolve a inspiração e expiração alternadas entre as narinas, promovendo equilíbrio entre os hemisférios cerebrais e reduzindo o estresse. Para realizá-la, feche uma narina com o dedo e inspire pela outra, depois alterne e expire pela narina oposta.
Além de acalmar o sistema nervoso, essa prática pode ajudar a diminuir a busca por alimentos ultraprocessados em momentos de tensão, auxiliando no autocontrole alimentar.
Respiração quadrada (Box Breathing)
Muito usada por profissionais de alta performance, a respiração quadrada é uma técnica eficaz para aumentar o foco e o autocontrole. O exercício consiste em inspirar por quatro segundos, segurar o ar por quatro segundos, expirar por quatro segundos e manter os pulmões vazios por mais quatro segundos.
Esse método pode ser útil em momentos de compulsão alimentar, ajudando a redirecionar a atenção e reduzir a ansiedade antes de tomar decisões impulsivas
Respiração com atenção plena (mindful breathing)
A respiração consciente pode ser combinada com a prática do “comer consciente” (mindful eating). Ao focar na respiração antes e durante as refeições, é possível desenvolver uma maior percepção dos sinais de fome e saciedade, evitando exageros e melhorando a experiência alimentar.
Como incluir essas práticas na rotina alimentar
Incorporar essas técnicas no dia a dia pode trazer benefícios significativos para a relação com a comida.Sugestões práticas de como aplicá-las:
Respiração antes das refeições: o que muda?
Respirar profundamente antes de comer pode ajudar a relaxar o corpo, melhorar a digestão e evitar que o estresse influencie as escolhas alimentares. Apenas alguns minutos de respiração diafragmática podem fazer a diferença.
Técnicas de respiração + diário alimentar: percepção e conexão
Manter um diário alimentar, anotando não apenas os alimentos consumidos, mas também as emoções associadas a cada refeição, pode ajudar a identificar padrões e gatilhos emocionais. Combinar essa prática com exercícios respiratórios auxilia no desenvolvimento de uma relação mais consciente com a comida.
Autocuidado como parte da nutrição comportamental
O cuidado com a mente e o corpo deve ser visto como parte da nutrição. Técnicas de respiração, meditação e outras práticas de relaxamento são ferramentas complementares que ajudam na regulação emocional e na construção de hábitos saudáveis.
Práticas simples que geram constância e resultados
Não é necessário reservar grandes períodos do dia para a respiração consciente. Pequenos momentos de pausa, antes das refeições ou em situações de estresse, podem trazer benefícios duradouros. O mais importante é a consistência.
Conclusão
A conexão entre respiração e alimentação vai muito além do que se imagina. A ansiedade pode impactar profundamente os hábitos alimentares e o funcionamento do corpo, mas técnicas simples de respiração ajudam a restabelecer o equilíbrio.
Incorporá-las à rotina é uma estratégia poderosa para melhorar a relação com a comida, reduzir o estresse e promover o bem-estar geral. Com pequenas mudanças e práticas diárias, é possível conquistar uma alimentação mais consciente e saudável.
Aline Navega
Aline é nutricionista clínica há 12 anos e atua como Chefe de Nutrição Clínica na Secretaria da Saúde de São Paulo. Seus atendimentos têm foco em emagrecimento saudável, obesidade, acompanhamento de bariátricos, saúde cardiovascular, saúde intestinal e ansiedade.Com uma escuta acolhedora e abordagem prática, Aline ajuda seus pacientes a iniciarem uma nova jornada de cuidado com o corpo e com a mente. https://zenklub.com.br/nutricionistas/aline-navega/
