Para o bom desenvolvimento emocional de uma criança, o afeto e os limites são fundamentais!
O crescimento físico de uma criança é muito importante, mas um desenvolvimento infantil saudável também passa por uma evolução emocional harmoniosa de qualidade. Para isso, dois fatores são indispensáveis.
O primeiro deles é o afeto. Na verdade, a maioria dos pais e mães sentem afeto pelo filho, mas isso não é algo imediato, e sim uma construção que se inicia na gravidez e vai se intensificando após o nascimento. No bebê, esse afeto se dá nos cuidados essenciais para sua sobrevivência, na amamentação, quando há o acolhimento, o contato físico, a troca de olhares entre ele e a mãe, dando-lhe segurança e sensação de proteção.
Se para um adulto é tão importante se sentir amado, para uma criança isso é primordial.
O segundo aspecto a ser considerado é a necessidade de se impor limites. Mas, o que são os limites? O primeiro limite percebido pela criança é quando ainda está dentro da barriga da mãe, quando tenta fazer um movimento e se depara com uma barreira física. Porém, ao mesmo tempo em que ela não consegue fazer um determinado movimento, essa limitação lhe faz se sentir segura e protegida dentro do ventre da mãe.
Até aqui, tudo é perfeito: o bebê não sente fome, já que é alimentado diretamente pelo cordão umbilical, assim como respira sem precisar fazer nenhum esforço. Quando ele sai da barriga, passa por sua primeira frustração: vai ter uma sensação incômoda de fome, vai chorar e precisará esperar até o alimento lhe ser ofertado. Mas esta será apenas a primeira de muitas outras que se apresentarão durante a vida.
[tie_index]O papel das frustrações no desenvolvimento infantil[/tie_index]
O papel das frustrações no desenvolvimento infantil
É muito importante que a criança aprenda desde cedo a lidar com as frustrações, com os “nãos” da vida, algo que acontece com todas as pessoas.
Na minha prática clínica acompanho pais que pretendem dar aos filhos tudo o que não tiveram. Eles contemplam os filhos com presentes quase todos os dias, compram alimentos que a criança gosta indiscriminadamente e realizam praticamente todos os seus desejos. Mas não percebem que a criança que tem tudo o quer, e na hora que quer, não vai conseguir lidar com a falta, em algum momento de sua vida.
Assim, quando crescer, se quiser algo que não possa ter, talvez venha a ter dificuldades de compreensão da realidade e, em casos extremos, roubar ou até desenvolver alguma dependência de drogas, que nesse caso funcionariam como uma fuga das dificuldades, construindo um paraíso imaginário onde tudo é perfeito.
Além disso, é importante que possamos evitar o consumismo exagerado que já é estimulado pela mídia logo cedo. A maioria dos países desenvolvidos adotou legislações restritivas com relação às propagandas voltadas para o público infantil, diferente do que acontece no Brasil.
[tie_index]Cuidar do desenvolvimento da criança implica estabelecer limites[/tie_index]
Cuidar do desenvolvimento da criança implica estabelecer limites
O limite se dá na rotina. É importante que desde bebê os pequenos tenham uma rotina mais ou menos estabelecida como, por exemplo: seguir um mesmo horário para tomar sol, tomar banho, alimentação e dormir.
Mais tarde, esse costume se estenderá com horários para estudar, assistir TV e brincar. Quando a criança sabe o que vai acontecer no seu dia a dia sente-se mais segura.
As regras também fazem parte dos limites e elas existem em todos os lugares: em casa, na escola, na sociedade. Se estas regras são construídas junto com os filhos é mais fácil que eles as cumpram. Por exemplo: muitas mães e pais reclamam que todos os dias têm que falar a mesma coisa com relação a tomar banho, precisam chamar o filho inúmeras vezes e até brigar.
Nessa hora, é importante chamar a criança e conversar, explicar e pedir sua opinião sobre por que é importante tomar banho todos os dias (seja para se manter cheiroso, ou para evitar doenças, piolhos, etc.). A partir daí, combinar que todos os dias, em determinado horário (depois da brincadeira, por exemplo) ela vai tomar banho sem que alguém precise chamá-la, pode ser uma boa tentativa.
No dia seguinte, provavelmente, ela não irá, mas é mais fácil lembrá-la a cumprir o que combinou, assim como os pais cumprem também o que combinam.
[tie_index]A importância do “não”[/tie_index]
A importância do “não”
Mas, talvez, o mais difícil seja estabelecer o limite do que se pode ou não fazer. Para muitos pais, dizer um não é muito difícil pois se sentem mal, ruins ou ficam com pena do filho. Também é difícil a criança obedecer, mas a obediência vem com mais facilidade quando há firmeza no “não” e se os pais acreditam que aquele “não” é importante.
Se um filho pequeno vai mexer no fogão, imediatamente a mãe irá dizer: “não mexa aí, você pode se queimar!”. A criança logo vai entender e deixar de fazer, porque a mãe foi muito firme e acreditava muito que aquilo era importante. Portanto, se falamos um “não” “mais ou menos”, a criança dificilmente obedecerá, além de se sentir um tanto “perdida”, por isso é necessário ser firme. E ser firme significa falar olhando nos olhos da criança, não é bater ou gritar.
Alguns confundem limites com castigos físicos, o que só piora a situação, tornando as crianças mais agressivas, pois transmitimos para ela que quando temos um problema devemos bater – e assim, ela vai começar a bater nos colegas, nos professores, nos pais, etc.
O “não” traz uma frustração e a frustração traz raiva. É comum a criança com raiva ter as famosas crises de birra. Chora, grita, se joga no chão e algumas vezes, para os pais, é muito difícil lidar com essa situação, principalmente quando observados por outros. Assim, acabam cedendo, o que torna a relação com o limite ainda mais complicada, pois a criança percebe o que ela precisa fazer para conseguir o que quer e cada vez mais irá repetir esse comportamento.
A criança tem muitas emoções que não consegue ainda administrar, por isso precisa de um adulto, alguém mais forte que ela que a ajude a controlar essas emoções (agressividade, medos, etc.) e mesmo que ela reaja quando tem um limite, com reclamações, choros e gritos, ela se sente mais segura.
Porém, assim como é importante o “não”, também o “sim” deve ser utilizado. Muitas vezes a criança pergunta: “posso…” e mal termina a frase e já vem um “não”, quando às vezes pode ser “sim”.
“Posso brincar no barro?” lá vem um não! Mas por que não? Porque vai dar mais trabalho para a mãe na hora do banho, por exemplo, mas não que seja algo perigoso ou inadequado para a criança, portanto, antes de se falar um “não” ou “sim”, deve-se pensar se há algum problema em determinado comportamento e, preferencialmente, o casal ter a mesma conduta.
Os limites ajudam a criança a crescer e nós, pais, devemos ajudá-los nesse quesito, embora a criança tenha o desejo de ser sempre um bebê para se beneficiar de alguns mimos e também os pais, inconscientemente, têm o desejo de que o filho seja um bebê.
Por isso, tão importante quanto a amamentação é o desmame, o colocar a criança para dormir na própria cama, retirar a chupeta, mamadeira, o desfralde. Para obter novas conquistas é necessário abandonar alguns comportamentos e a criança precisa da ajuda dos adultos.
Os limites são importantes, dão contorno para a criança e devem ser vistos como uma prova de amor, mesmo que ocasionalmente aparentem dor.
Muitas vezes os pais procuram formas melhores de educar os filhos, acredito que a maioria faz sempre o melhor que pode ou se sentem culpados quando não conseguem colocar em prática o que imaginam ser o ideal.
Não existem manuais de como criar um filho perfeitamente, pois se houvesse, todos seríamos perfeitos. Além disso, cada criança é única. A ajuda profissional de um psicólogo muitas vezes é importante, é um olhar de fora que pode ver o que talvez seja difícil quando se está envolvido e dentro do problema.
Por Viviane Horesh.